domingo, 19 de outubro de 2008

VAMPIROS DE IMAGENS


As vezes acho que a festejada "cultura do individualismo e da liberdade" é uma desculpa pra ainda mais alienação: é como houvesse um plano para, através da 'maquina do sistema', primeiro se tirar a cultura, a intuição e até a liberdade das pessoas e faze-las de ovelhas que acreditam que tem livre arbítrio, qualidade de vida e um rico leque de opções de vida. Então, aproveitando que elas estão sem esses privilégios, depois a fazem acreditar que os valores estão baseados em consumo, e além de venderem supérfluos insalubres, ainda vendem "antídotos", num processo parasitário. Diante desse quadro, sobram carcaças vazias que vivem pra trabalhar (e nao trabalham pra viver, o que seria o ideal) e tudo entra em um ciclo vicioso: diante dessa pressão pela produção a todo custo, não têm sequer tempo para buscar alternativas ao pré-moldado que lhes é empurrado. Frustradas, as pessoas tentam preencher esse vazio de forma errada, paliativa. E adivinha quem tambem dá esse paliativo de forma fácil e tambem pré-moldada? Não precisa ser visionário pra sacar que é a mídia. Tanto a industria de "entretenimento" - a espetacularizacão de tragédias, de produção de "ícones-ilusões-de-ótica" - quanto a midia que está mais em "plano real" - a publicidade. O negócio é criar uma imagem agregada a um status social e vende-la (assim como é feito com as mercadorias de consumo) como indispensável.

Ok, há séculos a historia da humanidade tem se baseado em imagem. Já na idade média a aristocracia vivia de uma imagem, uma máscara, e era seguida pela burguesia, que tambem tinha como um dos valores prioritários cultuar e perseguir essa imagem aristocrática e ostentar, glamourizar e mascarar sua vida. Assim se pode ver na obra de vários artistas que satirizavam a hipocrisia social como Moliere (As Eruditas), Balzac (especialmente "Comédia Humana"), Oscar Wilde (Retrato de Dorian Grey). Como evoluimos, obviamente nossas doenças evoluem junto. Hoje a mídia não só vende o culto de status ou objetos, mas pior: cria e vende, com toda a parafernalia tecnologica de que dispõe, a imagem desses objetos, que obviamente não condizem com a realidade. Tudo é espetacularizado, glamourizado, vendido como "modelo". Desde a rotina de "big brothers" até a vida de jogadores de futebol, de infelizes assassinos a atrizes e apresentadoras de televisão cujo unico curriculo é terem dado pra homens famosos..

Assim se faz uma relação de fetichismo popular por imagens idealizadas, junto com uma frustração, a de nunca alcançar estas imagens. É uma relação nada sadia: ao mesmo tempo há a admiração / a inveja; a super-valorização do outro / a desvalorizacao do self. Isso dificulta ainda mais as pessoas de entrarem em contato com sua grande verdade - que sempre está dentro delas mesmas. Buscam, desesperadas, representantes de dimensões de humanidade que o homem comum já não reconhece - o que dirá encontra - em si mesmo.

Predomina a imagem sobre a personalidade, a aparência sobre a "essência", e isso é uma das maiores características da cultura urbana contemporânea. Como o mercado é totalmente mancomunado com os meios de comunicação de massa, a mídia produz os sujeitos de que o mercado necessita, prontos para responder a seus apelos de consumo, numa simbiose de dois monstros parasitas. Por outro lado, o consumidor vive para valores fúteis que o fizeram crer como essenciais, e se torna tambem um vampiro, pois por mais que consuma o "remédio" dado, sempre estará sedento, sem saber exatamente de quê. Só que ele é parasita de si mesmo, ou melhor, ele é um cúmplice do parasitismo sem perceber, pois se permite parasitar.

Até a espiritualização virou indústria, aliás, uma das que mais arrecada dinheiro. Pois é óbvio que as pessoas, diante desse vazio, percebem que mesmo consumindo, a aflição do esvaziamento de essência e sentido continua. E vão buscar um lenitivo mais forte, a suposta "espiritualidade" que supostamente deveria se basear na riqueza da troca com o mundo e a busca de auto-conhecimento e hoje vem tambem em forma de mercadoria, pré moldada, de fácil consumo. Claro que é preciso ter "fé" em qualquer coisa que pareça uma bóia de salvação para desconcentrarmos desta falta de sentido, esse empobrecimento e massificação dos nossos valores essenciais.

O resultado é, como tudo em uma sociedade imediatista, um apodrecimento, um esgotamento das bases, e um inevitável desmoronamento da estrutura atual, que já está em plena decadência. Talvez se não fosse por esse imediatismo, todos iriam enxergar que todo mundo acaba perdendo com um empobrecimento geral de uma sociedade que só consegue "enriquecer" às custas destas vidas expropriadas, e baseadas em ilusões. É ilusão pra te vender coisas, é ilusão pra te fazer alimentar mal, é ilusão pra te vender remédios e soluções milagrosas pra todo lado. Há parasitismo em mais lugares do que se parece, o que deixa todos debilitados. E é dificil enxergar esse empobrecimento justamente porque faz parte do jogo o sistema fechar os olhos das pessoas para isso, fazendo-as acreditar que, abarrotadas de mercadorias, gozam de uma riqueza excepcional, o que as deixa ainda mais perplexas.

Saídas práticas e positivas? Aprender a identificar os "parasitas", compreender toda essa "máquina descontrolada" e passar adiante a compreensão, não pregando, mas informando, proporcionando pensamento, discussão, reflexão. Talvez sua missão no mundo inclua isso, quem sabe? ;)


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Dedicado à minha amada e iluminada Aleta.

Um comentário:

Anônimo disse...
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