quinta-feira, 14 de agosto de 2008

machismo vs feminismo

barbie-mulher-maravilha: desde cedo as meninas ja sao subliminarmente programadas para o modelo de perfeicao feminina, e claro que de um ponto de vista masculino.

A gente nao se dá conta, mas há uma guerra dos sexos, de pano de fundo, na nossa cultura. E sempre haverá, enquanto a maior parte nao enxergar e desvendar as desigualdades envolvendo os gêneros. De um lado, uma sociedade que ainda tem uma herança machista, que oprime e pressiona a mulher de uma forma principalmente tácita. Do outro, mulheres que não se conformam com essa desigualdade e ficam num dificil lugar onde se dedicam a chamar atenção para os desequilibrios entre gêneros e machismo do mundo. "Dificil", porque é um ingrato posicionamento ideológico: se por um lado se tem que puxar a balanca pro centro, se faz uma força oposta muito grande. Por isso as pessoas confundem esse conceito do feminismo, que nao é o contrario do machismo, e sim uma tentativa de proteção contra o machismo. E tambem por isso que é tão comum defensoras da igualdade feminina cometerem o feminazismo, o radicalismo geralmente contendo rancor e raiva, que é igualmente despropositado e destrutivo. Porque só alimenta essa "guerra de sexos". E lutar pela paz é um contrasenso, e um pecado recorrente de muitos militantes: a linha que divide militância e radicalismo é muito tênue.

Vi um filme em Barcelona, numa exposicao dedicada a Agência Magnum, chamado Aka Ana, filmado em 2006 em Tóquio, do diretor francês Antoine D'Agata. O filme mostra depoimentos, dos mais profundos, de prostitutas japonesas, e uma fotografia que te leva ao mundo mais íntimo delas. Saí da sala de projeção estarrecido. Foi uma experiência muito forte, porque nunca vi um filme que falasse de uma forma tão crua e profunda da natureza feminina, da fragilidade que envolve a sua condição, da questão de lidar com a sexualização do mundo regido pela visão masculina, das 'leis' que a vida impõe à mulher, ainda mais naquele contexto. Isso tudo se intensificou ainda mais porque estava acompanhado de uma amiga que ja teve uma experiencia de estupro. Realmente sai branco, com olhar perdido e a consciência de que provavelmente nenhum homem vai um dia saber exatamente o que é, realmente, a condição feminina, os conflitos, a responsabilidade de ser tanta coisa que lhe é projetada, a pressão da sociedade em tantos aspectos, a subjetividade e sobretudo o milagre da maternidade. E isso me faz compreender mais as mulheres que piram com isso, e as vezes passam dos limites. Nao é pra menos.

E por este equilibrio homem-mulher ser uma condição tao delicada, e por serem necessários tanta evolução e altruismo da raça humana para lidar de forma equilibrada a respeito, não sou otimista. Como o mundo está cada vez mais individualista, as pessoas cada vez mais fechadas e incapazes de se relacionar, compreender e tolerar as diferenças, do jeito que as coisas estão cada vez mais imediatistas e capitalistas (em uma sociedade onde todos querem comprar as soluções, e nao trabalhar por elas) eu cada vez mais acredito em uma antiga profecia minha:
Como sou fã de ficção cientifica e de previsões fantásticas, acho que nesse seculo nós ainda vamos presenciar um conflito social (e sexual) gerado pela tecnologia. Se imaginarmos que não ha limites tecnologicos, um dia desses os japoneses vao lancar uma sofisticada mulher artificial para fins sexuais (como ha em blade runner, meu filme preferido). E eu acho que os valores dos centros urbanos do mundo tao caminhando pra um lado tão vazio e consumista que isso vai ter um mercado grande entre infelizes homens solitários, acomodados, imediatistas, sem vivencia ou simplesmente machistas e misoginos, em um mundo cada vez mais regido por imagem e menos por valores essenciais. E certamente vai gerar uma (in)revolução de costumes. Se pararmos pra imaginar as possibilidades, nao é nada animador. Mais um exemplo de que a tecnologia, se usada somente pra suprir o comodismo e imediatismo humano, pode ser uma enorme inimiga.

Será que o ser humano vai acordar a tempo para resgatar (Desde ja) a vida de verdade? Resgatar o valor da complexidade tão bela das relações, que são essenciais pra nossa evolução como humanos?
Veremos nas proximas décadas, mas correndo o risco de parecer feminista (ou machista, pra alguns pontos de vista), sinceramente eu acredito que a mulher tem até mais poder pra mudar esse destino - espalhando sua compreensão e sensibilidade, se negando a ser o que o mundo machista espera dela para ser ela mesma e botando pra fora o seu poder e sua inteligência emocional, que são tao reprimidos, há tantos seculos, que precisam de uma sacudida pra acordar realmente.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

london




Passagem rapida por Londres pra encontrar meu publisher, que lancou meu primeiro CD (Dr.K - SwingSambaLounge), que fiz ha 5 anos. Colocamos papos em dia, atualizamos contratos e fizemos planos pra tour do ano que vem. Fiz uma sessao de fotos pra imprensa pro Dr.K no Tate museum. Adorei a 'equipe' da Curve Music (Lizi, brasileira, e o Greg ruivao), e o fotografo brasileiro Arthur. Deu tempo de passar uma tarde passeando pelo Soho vendo lojas de discos e camisetas bacanas. Terca conheci finalmente o Guanabara, o famoso Club Brasileiro. Um clima bom, cheio de brasileiros e, claro, ingleses que querem encontrar gente que tem dendê e samba no pé. Hehe.

Londres eh a capital mundial do "sorry". Incontaveis os sorrys que escutei nesses 2 dias. Concluo que seja, por isso, o lugar mais civilizado do mundo.
Londres ta mais cara que nunca. Dois dias apenas, e so pra locomocao dentro da cidade (metro, onibus e trem pro aeroporto) foram 28 libras, o equivalente a uns 85 reais... Tem que ter cacife.

Momentos mais marcantes:

- Ver pela primeira vez o meu primeiro cd em formato fisico, e com selo prateado holografico e tudo. Ele foi prensado na Ucrania e em breve sera na Inglaterra.
- Ser clicado por uma rolleiflex 1948
- Ver o trabalho de artistas brasileiros cobrindo as paredes externas do Tate museum
- Receber o carinho e respeito do pessoal da Curve Music. Sou o unico DJ/Produtor do label, e recebi elogios do album do tipo "classico desde que nasceu", "parece uma viagem de aviao, comeca ja decolando, te deixa descontraido e acaba chapante", "quase abriu um buraco no cd, porque nao saia do meu cd player", "me faz dancar em qualquer lugar sempre que eu o ouco".

sábado, 2 de agosto de 2008

bristol 2


Bristol parece uma Londres mais relaxada, tranquila, pessoal muito amigavel, tou curtindo bastante.  Ontem toquei na Festa Brazilian Beatz (foto acima), 400 pessoas amarradonas pra ouvir so musica brasileira a noite toda, e a maior parte de ingleses, o que eu prefiro, pois voce pode entrar mais num conceito, mostrar coisas novas que eles se amarram. Fiz meu live e toquei muitas coisas de musica brasileira com influencia de ritmos eletronicos. Claro que o som do club era uma maravilha, os subgraves batendo bonito e fazendo todo mundo feliz.

Na pista 2, o lendario DJ Derek 75 com um corpinho de 74, tocava com com MDs um reggae de primeira qualidade, e ainda dava uma de MC com sotaque jamaicano! Amazing.

A noite foi perfeita. No dia seguinte eu encontrava as pessoas pela cidade e todos varios me disseram como se amarraram, adoraram a diversidade e a mistura de estilos com a musica brasileira.

Dormi na casa do Claudio, um dos socios da festa e professor de capoeira que coordenou a roda que se apresentou no meio da noite, e que foi excelente. Ele entrou pra imortalidade quando gravou a controversa introducao do ultimo disco do portishead. Foi contratado por 300 libras pra recitar um pequeno texto em portugues, e me falou que o texto nao tem nada de radicalismo religioso, apenas eh um texto falando de karma, dizendo que o que voce faz, sempre volta pra voce em triplo. Ainda disse que o pessoal do portishead ia gravar em espanhol, mas resolveram em portugues devido a popularidade do Brasil por aqui.
Foi legal amanhecer em Totterdown, o bairro que eu ja conhecia apenas de ver em um clipe do portishead. 

Hoje toquei pre centenas de pessoas num festival que foi das 11 as 19h, com o Kacey, entre as bandas. A que eu mais gostei foi a banda de swing-folk-jazz-balcanica Sheelanagig, que mostrou que tem muito ingles com swing, num show divertidissimo e performatico. 

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

bristol


Cheguei na terra do drum'n'bass e do reggae. Cidade do Banksy! Bristol me parece bem legal. Olhem a estacao ferroviaria, que graca.
Meu camarada Kacey, um ingles descendente de iranianos que adora o Brasil, me encontrou no meio da rua depois da gente desencontrar na estacao (segunda vez que acontece isso na viagem, muita coincidencia) e fomos tocar ontem uma festa de caridade num clubzinho local. Quando entrei, um dj e dubstep tocando e os subgraves bombando. Subgrave eh que nem uma droga, fez efeito na hora e eu gritei BRISTOOOOOL!!!! :) Dancei muito, logo depois tocamos e depois, drum'n'bass. Db eu sempre gostei, mas eh aquela coisa.. entrou numa formula ha um tempao e todos os djs que ouco me soam cansativos. O que eh mais legal eh o MC.. ontem havia dois excelentes.
Os ingleses sao aquela coisa: Otimos pra festa, bem dispostos. Mas dai encontrar algum que dance bem eh outra historia.. Kacey me falou que as mulheres adoram as festas brasileiras que ele faz, mas os homens ficam intimidados porque nao sabem dancar aquele tipo de musica.

Hoje vou tocar com Kacey de novo, e na pista 2, o lendario DJ DEREK, esse do video ai acima. Observem a figura lendaria de um DJ de 75 anos venerado pela garotada local. Bristol, a Jamaica inglesa, eh demais.