quarta-feira, 30 de julho de 2008

conto infantil


Minha filha uma vez me confessou que morre de medo da professora perguntar algo que ela nao saiba responder. Disse que quando isso acontece, eh "uma das piores sensacoes da vida dela", e ela fica sem acao, os olhos enchem de lagrimas. Expliquei que ela tem direito de errar, que ninguem nasce sabendo, que nao eh vergonha alguma nao saber de algo. Ate apelei pro argumento de que ela eh crianca, que crianca nao precisa se preocupar com nada, isso de levar tudo muito a serio eh coisa de adulto. Claro que nao adiantou, ela alegou que "eh dificil mudar, certas coisas nunca mudam"

Entao fiz um continho infantil pra ela.. com muito amor. Transcrevo aqui pra exprimir minhas saudades.

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Era uma vez duas irmãs gêmeas: Lelê e Lili. Elas eram iguais em tudo, menos em uma coisa: A Lelê levava susto com tudo, e a Lili nunca se assustava. Ninguém sabia porque que as irmãs eram tão diferentes nisso. Quando alguem dava susto na Lili, ela ria, e não tinha medo. Já a Lelê ficava com muito medo de levar qualquer susto, o que deixava ela mais nervosa ainda. Qualquer relampago, bombinha de são joão, porta batendo ou até sombra a assustava, e toda hora tinha um novo susto, por isso Lelê chorava todo dia, dormia mal, e passava o dia cansada. Tambem nao queria fazer coisas diferentes, porque tinha medo de coisas novas: so queria ver televisao, porque quando assistia programas e desenhos era a unica hora que ela se esquecia do medo dos sustos. Na hora de dormir, Lelê nao deixava a irmã apagar a luz, porque no escuro, já que ela nao podia enxergar, tinha ainda mais medo de levar sustos. E Lili não entendia o motivo da irmã ser tao ansiosa. Muitas vezes Lili ate se divertia assustando Lelê, e achava que dando mais sustos um dia ela se acostumaria, mas na verdade Lili nao sabia que pra Lelê era MUITO horrivel levar susto, era uma das piores sensações. Um dia ela notou que a Lelê estava cada vez mais seria, triste e nunca se divertia, e ficou preocupada com sua querida irmã. Finalmente Lili se colocou no lugar de Lelê e entendeu como ela via e sentia as coisas de uma forma assustadora. Assim, passou a ajuda-la, não dando mais sustos, para a irmã ficar mais calma. Mas Lelê continuava assustada por tudo. E não adiantava dizer para ela que não tem motivo pra levar susto, porque Lelê ja sentia susto antes mesmo de pensar.

Uma vez os seus pais sairam de noite e elas precisaram ficar sozinhas em casa. Lelê ficou apavorada, e Lili dizia, calmamente, que não tinha motivo para ter medo. Lelê dizia que podia aparecer um fantasma na casa, mas Lili dizia: não existe fantasma, e mesmo se existise, eu faria amizade com ele! Entao elas foram brincar, mas Lelê sempre com medo. Quando estavam brincando de boneca, um vento fez a cortina da janela balancar, Lelê viu a sombra da cortina e levou um grande susto. Quis sair correndo e sua irmã falou: "olha, não foi nada, foi so o vento, ta tudo bem" e trazia Lelê de volta para o quarto pela mao. Lelê ficava toda hora olhando a janela, com medo, e de repente a irmã teve uma ideia para ajuda-la: Falou: "Lelê, ja sei porque você leva tanto susto. E so porque você tem MEDO de levar susto!" Lelê respondeu "Como assim? Não entendi" E a irmã explicou melhor "Se você não tiver medo, ai nao toma susto! Vou te mostrar: Deita aqui e fecha os olhos que eu vou tentar te dar um susto." Lelê demorou muito pra fechar os olhos, porque tinha medo ate do susto dado pela propria irmã, mesmo ela avisando que ia dá-lo! Depois, acabou deixando, e Lili fazia "BUU!" e Lelê pulava de susto, mas depois ela comecou a relaxar, e depois de umas dez vezes ela viu que não tinha motivo pra ter medo e levar susto. Então quando Lili fazia "BUU!" ela comecou a rir. E depois de vinte vezes, ela ja achava a palavra "BUU!" tao boba que ria mais ainda, porque não achava mais assustador, na verdade "BUU!" era ate uma palavra engraçada, e não tinha motivo pra ter medo dela! Passou a achar a palavra "BUU!" a mais engraçada do mundo.

As irmãs cresceram, e quando ja eram adultas uma vez Leticia falou pra Lisbela (eram seus verdadeiros nomes): "Irmã, nunca te falei isso, mas aquele dia em que você ficou me ensinando a não ter susto foi um dos mais importantes da minha infancia. Depois daquele dia passei a ver as coisas de forma diferente. Ao inves de ter medo do susto, eu tinha é coragem, e quando eu cresci mais eu entendi que é igual com todos os problemas da vida: Eles aparecem toda hora, e se você tem medo deles, eles são horriveis e tiram seu sono. Mas se você sempre vai em frente sem medo dos problemas, quando eles aparecem você sofre menos, e sabe lidar com eles de uma forma muito mais calma. Nunca te agradeci por isso, e quero dizer o quanto foi importante pra mim, e te agradecer agora". E deu um abraco forte na irmã. Entao, abracadas, dessa vez foi Lili que chorou. Não de susto, mas de felicidade.

terça-feira, 29 de julho de 2008

idiossentropias

   (foto: eu mesmo, ontem)

idioss
- vem de idiossincrasias. Coisas do meu universo interno particular mesmo. Voces sabem, eh a primeira vez que tenho um blogue particular. E eh estranho, nao sei se tenho muito jeito pra coisa, afinal.
entropias - eh o caos, a desordem. Porque eh assim que eu escrevo mesmo. Se eu fosse bom, ja teria partido pra coisas mais profissionais.
Mas como eh um blogue informal, sem compromisso de ser muito politicamente correto, e so pros queridos amigos mais intimos (e nerds), tudo bem.. Se eu escrevo umas linhas mal tracadas  ta tudo em casa. Eh so comentar, argumentar, sugerir. Mais deixem o nome no comentario se nao sai "anonimo".. e dai nao rola uma troca, que eh o sentido da coisa mesmo.

abs

um passo a frente.. e vc nao esta mais no mesmo lugar

Depois de 5 dias em Milano, minha viagem entra numa nova fase, e me mostra cores que eu nao tinha experimentado antes. A experiencia de tocar num festival Latino foi muito valida, e o pessoal por aqui teve um reconhecimento do trabalho que me surpreendeu. Num nivel mais pessoal, tou conseguindo aproveitar mais a viagem, curtindo o agora. E percebo o quanto eu posso ser dedicado: No momento em que resolvo me dedicar integralmente a minha viagem, ela realmente comeca a me surpreender. Podem haver decepcoes isoladas, mas quando voce se da bem com a vida, nao tem tempo ruim. Pode haver ignorancia por toda a parte, mas quando voce tem carinho e tolerancia com tudo, encontra sempre onde ta a luz, e sintoniza com o que eh importante pra voce, atrai pessoas com mentalidades afins, mesmo que esteja num lugar onde nunca espera que isso aconteca. Ou seja: a vida nunca decepciona! Esse eh o meu maior aprendizado ate agora, e estou me sentindo completo por estar passando por essa vivencia. Vejo como eh importante pra mim me permitir a experiencias onde posso exercitar o meu improviso com a vida, que pra mim eh o tipo de vivencia que mais ensina no mundo.

Italia eh um pais unico, foi muito bom vir pra ca pra quebrar alguns preconceitos meus, inclusive. Ate entendi mais os preconeceitos dentro da propria italia, onde ha rivalidades entre as regioes. Hoje ganhei um cd de uma banda italiana chamada PARTO DELLE NUVOLE PESANTI, que tem o som baseado na musica tradicional do sul da Italia, como a tarantella. (Aqui da pra ouvir uma musica deles, num video satirizando o presidente italiano, que consegue ser mais patetico que o bush). A tendencia mundial eh que grupos valorizem cada vez mais suas raizes, tenho dito isso ha um tempo e cada vez mais acontecendo. Agora estou louco pra conhecer a Sicilia.

Percebo a cada dia que meu caminho eh buscar a essencia das raizes. Que a melhor forma de entender e lidar com a vida eh se livrar o maximo da futilidade de desejos glamourosos (que se analisados, so visam um status futil) e se aproximar da simplicidade das pessoas de 'verdade'(pra mim a maior parte delas certamente nao esta na minoria que eh muito privilegiada financeiramente) e dos ritmos, cores e lugares 'vira-latas', e eh por isso que gosto cada vez mais do Brasil.

Como a a troca, a vivencia, a interacao sao a coisas mais prioritarias pra mim, eu tendo a acreditar cada vez mais que o grande mal do mundo atual eh que ele eh regido por pessoas sem vivencia o suficiente, no sentido de interagir, trocar, se relacionar mesmo com os outros. Esta tomando o poder, a partir de agora, toda uma geracao que cresceu fechada nos seus apartamentos, seus carros e seus escritorios, e confesso que isso me preocupa..

quarta-feira, 23 de julho de 2008

u-hus

ilustracao:Shag

Sempre tive dificuldade de entender quem acha a vida chata, "dura" ou sem opções.
Pra mim a vida é uma sucessão de descobertas. A sensação de que, mesmo que eu viva 101 anos, não terei tempo pra conhecer, aprender, ver e curtir tudo que quero é uma das minhas maiores frustrações. Talvez a única realmente..

Estou sempre descobrindo estímulos... E, claro, sempre procurando formas de descobrir mais. Acho que assim se pode ter uma vida excitante sempre, afinal, o que não faltam são estímulos nesse mundão. Everywhere. Os problemas, então.. são os estímulos mais desafiadores! Não tenho medo deles.

E olha que eu podia reclamar, porque alem de ter como principal fonte de renda uma sub-profissão, é também uma sub-profissão dentro de um meio artístico.. Posso não ganhar dinheiro, mas me divirto um pouco! ;) Pelo menos é uma sub-profissão com uma ideologia clara. Pra mim a ideologia é fundamental, é o diferencial de ser um bom profissional.

Me ocorreu agora: viver é como discotecar. É uma função coletiva, social, mas em primeiro lugar você tem que tocar pra si mesmo, afinal se não tiver prazer naquilo, não vai passar esse prazer pras pessoas.
Se você tem um repertório pequeno, tudo vira rotina. Se você tem um repertório maior e rico, pode escolher exatamente o estimulo adequado pra cada momento.. se tiver o feeling, claro. Por isso é a junção do esforço de sempre conhecer novos estímulos (a chamada pesquisa de repertório e forma de mostrá-lo, que nunca acaba) com sempre sentir a atmosfera, como as coisas vão fluindo. E dançar conforme a musica também, claro. (O que seria de nos se tivéssemos os quadris rígidos? Vejo claramente que é terrível ser rígido, levar certas coisas muito a serio ou só se satisfazer se algo acontece naquele padrão pré-determinado pela nossa cabeça.)

Um DJ sabe também que uma pista não deve ser o tempo todo super-estimulante ou apelativa. Por exemplo: é fácil fazer uma criança gostar um doce atrás do outro (overdose de açucar que não nutre). Mais dificil é fazer ela apreciar o sabor mais sutil de uma fruta, de uma verdura.. rsrsrs.. Na pista é o mesmo: Existem as transições, existe o esfriamento, a troca de feelings, o relaxamento pra depois o estimulo volte com mais força e mais prazeroso. Toda boa história tem altos e baixos, e um DJ, como o maestro dessa "historia", deve saber conta-la com continuidade e coerência. E deve sobretudo saber o perigo da "facilidade dos U-hus", que não devem ser gratuitos, fáceis, se não as coisas vão ficando genéricas e mundanas demais. . Afinal, quem se vicia em hiper-estímulos deixa de reagir aos estímulos sutis.

terça-feira, 22 de julho de 2008

milano

                  (clique pra ver um pouco maior)
Meu live logo depois do show do Marcelo D2.. a noite promete!
Ainda tocar antes com Frank Sicardi (responsavel pelas compilacoes Sambass da Irma) e Emanuelle do projeto Nubraz

terça-feira, 15 de julho de 2008

venezia


Tirei segunda pra ir visitar Venezia, que fica a 180 km daqui. Acordei cedinho e, depois de um onibus e um trem, passei o dia inteiro andando na cidade das gondolas, das mascaras, das flores e da arte com vidro.

Fantastica. Quando se chega, ha o impacto, eh um cidade diferente de tudo, pois fica dentro da agua. Isso que " ta afundando" ou que "cheira mal" eh LENDA. Quem mora em Venezia quer um barquinho, um bote, uma gondola, e nao um carro. Simplesmente nao ha carros ou motos la. Sao consideradas 118 pequenas ilhas formando a cidade. Os turistas ficam enlouquecidos quando chegam la, mas surpreendentemente nao tava muito cheia. Havia movimento nas ruas principais, mas era so entrar pelas ruelas alternativas que se encontrava uma cidade tranquilissima, dava pra viajar nas peculiaridades locais.

A producao de vidro (a maioria vinda de Murano, do lado de Venezia) eh absurda. Tudo que voce imaginar, certamente encontrara uma versao vitrea pra comprar. Tudo. Muita arte experimental em vidro tambem. Lojas inteiras so de produtos de vidro. A contradicao eh que a a cidade vive de turismo, e certamente eh dificil convencer os turistas a levarem na mala elefantes e cavalos de vidro, grandes esferas, lustres gigantes. Tem que morar meio por perto, dai eles entregam. 

Uma das coisas que mais me impressionou foi o cemiterio. No meio do mar, relativamente afastado do limite da cidade, de repente vi um gigante retangulo, imponente. Esse eu coloquei foto no flickr, mas aqui vai uma bem melhor dele.

Fui a famosa praca San Marco, onde fora os pombos hippies interagindo com a turistada, tudo eh lindo (rsss). Viajei no Cafe Florian, certamente o mais charmoso da praca. Tirei fotos bem legais, mas de detalhes da cidade. As no estilo "turista" nao vale a pena postar, afinal qual o sentido de postar fotos feitas com camerazinha normal quando se pode ver muitas e muitas realmente decentes online?


segunda-feira, 14 de julho de 2008

cade a ideologia que estava aqui?



Pois eh, acreditem ou nao, parei num festival anti-racista na Italia, e agora sim, um sabado, tive a nocao maior de como funciona isso por aqui.

Dessa vez fui sozinho, tocar a segunda vez no festival. Cheguei umas 18h e ja estava cheio de gente, entao observei o dia inteiro as pessoas, tentando descobrir onde estava o lado mais ideologico e militante do festival. A camisa de um grupo de hip hop que tava passando o som tinha escrito "grupo tal odeia o racismo". Na minha frente, no refeitorio, um italiano sem camisa exibia uma tatuagem enorme no peito com a frase "life is pain" (sim, escrita assim, em ingles), e outro do meu lado com uma grande no antebraco, " love & hate". Outro grupo exibia uma camiseta com um logo com a frase "good night white pride", supostamente representando um racista sendo nocauteado. Sera que um pessoal que esta engajado dessa forma numa causa anti-racista ja nao deveria saber, a essa altura do campeonato, que odio contra odio so gera mais odio?

Mas no geral o clima era tranquilo, como o de comportadas ovelhas. Quase todo mundo com cerveja e cigarro na mao. Durante o dia o lugar parecia uma colonia de ferias sem muitas opcoes de entretenimento. Estranhamente o palco principal (e unico) ficou ate 21:30 (ainda dia) vazio. Depois, so duas bandas (ja que eles tem que parar 3h, pois mesmo sendo no meio do campo, leis sao leis..), a primeira foi de hip hop, daquele tipo tradicional de 20 anos atras, e logo depois uma banda de rock punk. Pra fechar a noite, um dj de drum'n'bass pesado.

Nas barracas, dezenas de imagens do Che Guevara, (sempre bom lembrar que foi um dos mais belicos assassinos do seculo XX, oportunamente transformado em martir do marketing do comunismo apos sua morte) vendendo adoidado em bones, camisetas e bandeiras. Eh evidente que idealismo de butique faz sucesso. Toda hora via camisas negras de bandas ancias: motorhead, iron maiden, sex pistols, metallica, a mais nova delas de 20 anos atras. Ja nao se fazem mais icones como antigamente? Frequentemente me vejo vivendo entre cliches datados ou distorcidos (como o caso do Che, por ex).  

Acho que enfim comeco a entender porque ouco tanto a frase "nasci no tempo errado" entre a garotada. Quem tem 18 anos hoje em dia deve se sentir vivendo em cima de valores clonados, e eh compreensivel que exista o desejo de ter vivido os originais, entao eh criada toda essa nostalgia deslocada. E entao fica mais compreensivel analisar como eh difcil fazer coisas de vanguarda hoje em dia. A absorcao eh dificil , ja que o pessoal ta tao condicionado a consumir pastiche de pastiche. 

Um parentesis: Lembro que quando cheguei em valencia e tinha um grupo enorme de adolescentes em frente a ferroviaria fantasiados de anos 80. A moda 80 realmente ta no apice agora, e voltou de forma caricata, tudo muito colorido, cheio de quadriculados, estampados de zebra, maquiagem carregada, rasgados e mullets. Aquilo foi muito divertido, porque me senti dentro de um comercial do gel new wave (lembram?). Fora o pessoal caracterizado de punk, parece que seguem uma rigoroso dress code definido ha no minimo 20 anos.

Ai lembro de um dos meus filmes preferidos, o invasoes barbaras , que satiriza a decadencia das religioes e a carencia de novas ideologias. Entao vos pergunto, qual o caminho, qual a ideologia? Eh ser cetico? Niilista? Partir pra desconstruir tudo, com uma mentalidade terrorista ou partir pra odiar e matar quem nao pensa igual, como nosso comandande Che? O pensar ecologico nem eh mais uma opcao hoje em dia, eh um dever, e eh dificil quem realmente pensa verde de modo realista (A maioria se orgulha de nao usar sacola de plastico pra ir no supermercado mas deseja trocar de carro todo ano, por ex.).

Fico mais, em primeiro lugar, com o bom humor. Rir pra nao chorar. Por isso que meu artista preferido eh o Banksy, que esfrega na cara da sociedade as hipocrisias e as stronzatas, como se diz aqui na Italia. Fico mais com o trabalhar pras coisas andarem de uma forma um pouco melhor, mostrando arte e cultura pra pessoas que normalmente nao teriam oportunidade de descobrir por elas sos. Fico mais com trabalhar por novas ideias pra formar a cabeca das novas geracoes de forma diferente, mais realista e completa.

Outra coisa que tenho notado aqui na Italia eh o pessoal reclamando e dizendo que vai sair do pais. Estranhamente todo mundo fala, atualmente, da Espanha, como se fosse a terra da salvacao, o pais do futuro. E a Espanha tem crises equivalentes ou piores. O que passa eh que o pessoal nao entende que a crise eh geral, eh um comportamento escapista e bastante individualista querer sair do seu pais, ao inves de tentar melhora-lo, trabalhar por ele, assim que a gente pode criar novos padroes, novas oportunidades, ao inves de torcer pra isso cair do ceu ou idealizar uma "terra prometida" que nao existe.

festa brasileira!

Bastou uma boa festa pra juntar energias boas do festival numa pista de danca. Como eu ia tocar numa pista menor no sabado, nao fiz meu live, e sim uma "noite brasileira". E nem foi anunciado direito, tava so escrito num painel que teria seratta braziliana as 22:30 com DJ Lucio K do Brasil, e logo chegou um grupao e se jogou nas batidas brasileiras. Tocar pra gringos eh um pouco diferente, as vezes coisas com sonoridades bem percussivas e que soam originais pras referencias musicais deles funcionam mais do que classicos. Entao rolaram muitas producoes proprias, sambas novos, antigos, marcatu, maculele, sessao capoeira.. foi bem divertido. Era pra acabar 2 e acabei 3, sob protesto do publico presente. Senti que monopolizei todo mundo do festival com mais de 30, so ficou a garotada la na pista principal, de musica eletronica.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

the monkeys


Aproveitando o clima do festival o qual eu tou participando, um classico que sempre vale a pena rever. 
Mas como estava falando com minha mae esta semana.. Existem dois tipos de macacos. Os que preferem uma vida plana e ficam eternamente la e os que partem pra uma compreensao e interatividade mais esfericas de si mesmos e para com o mundo. Isso eu acredito que os faz macacos um pouco menos involuidos e frustrados.. ;)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

alcohol


Ontem toquei num festival chamado Mondiali Antirazzisti, que tem a proposta de discutir e protestar contra racismo, xenofobia, sexismo e preconceitos afins. Muito legal, principalmente porque parece que nesses festivais todo mundo que eh militante, outsider ou simplesmente esquisito comparece, o que forma uma mistura interessante...

Ma havia uma coisa curiosa: uma classe de "diversao" que eu nao conhecia.. homens num estilo meio hooligan ficavam no refeitorio (onde estava o bar) bebendo cerveja em quantidades industriais a noite inteira e cantando hinos de futebol all night long. And i mean all night loooong, o mesmo refrao. Ignoravam as palestras, shows e djs do festival, pra ficar no refeitorio, daqueles com luz branca, cantando em grupo. Abracando-se ou com as maos pro alto, ficavam cambaleando e cantando sem parar em loop. Engracado nos primeiros 3 minutos, depois fica meio depre. Presenciei uma cena insolita: um deles, enquanto cantava, comecou a vomitar e engasgar, tudo ao mesmo tempo, e ninguem deu a minima, provavelmente eh uma coisa normal nessa pratica.

Eu realmente acho muito vao, bobo, vazio o mundo do alcool. Pode parecer uma contradicao - afinal trabalho principalmente na noite - mas sempre soube separar a diversao pela musica, celebracao e interatividade da diversao pelas drogas. Esse copo ai do lado, claro que eh agua com gelo, o simbolo da entropia para a wikipedia. Sao 20 anos de noite sem beber, e vejo cada vez mais os resultados, porque tenho 36 com uma cara de 35.. rsss. Mas falando serio, eh indiscutivel que acool incha e envelhece, principalmente se levado como um estilo de vida. 

E vejo muito aqui na Europa, ate mais do que no Brasil, a cultura que se orgulha de beber, como se fosse o maior barato. E acaba sendo patetico. Um jogador espanhol de 22 anos, logo depois de ganhar a copa, falou na entrevista em rede nacional somente um "agora vamos ficar bebados!". Celebracao eh praticamente sinonimo de se embriagar. A industria de bebidas venceu. E eu me sinto um alien.

Fiquei feliz que uma pessoa amiga me falou ontem que parou de beber. E tem acontecido isso com amigos entre 30 e 40. Afinal, um dia as pessoas se tocam que tem que se cuidar, porque o corpo vai envelhecendo e perdendo a capacidade de neutralizar as merdas que a gente faz com ele, como se entupir de alcool so porque eh " divertido", bebidas sao "gostosas" ou pra ficar "mais sociavel"(nos melhores casos).. De que adianta malhar, se alimentar bem, gastar com produtos, medicos etc. e sair 3 vezes por semana pra encher a cara?

Ok, ok, esta na nossa natureza atavica se "embriagar". Afinal observamos varios animais na natureza ficando doidoes, fissurados por substancias inebriantes ou viciantes. Afinal, nao sou moralista ou censurador, vide o que escrevi aqui ha uns posts atras sobre o valor de sair do nosso estado natural as vezes. O problema nao eh a droga, mas como voce a administra. O problema eh a fuga, a muleta, o atalho, e principalmente a dependencia psicologica disso (que no meu ver eh pior que a quimica). 

Assim como as pessoas se condicionam a comer industralizados cheios de glutamato monossodico (os salgados) e acidulantes (os doces) e perdem a sensibilidade de apreciar os reais e sutis gostos da natureza, quem bebe muito perde muito a capacidade de lidar com o mundo de uma forma sutil e natural, de se embriagar com a beleza, com o amor, com a danca, a musica, a expressao, o sexo, enfim, com esse mundo que ja eh inebriante. Basta se exercitar a sensibilidade pra isso, e claro que o alcool esta no caminho oposto.
Alem disso, tem os exercicios pra relaxar, desinibir, ter mais atitude, se permitir. Eles deviam ser ensinados desde a escola primaria pras criancas. Mas nunca eh tarde. Todos nos podemos estimular, induzir naturalmente e auto-sugestionar determinadas ondas.

Uma vez me chamaram de "careta" por nao gostar de comportamentos viciosos. E na epoca nem tive disposicao de explicar que esse sentido pra palavra "careta" que eh uma das maiores caretices na minha opiniao. :) Pra mim careta eh quem se prende a tradicoes e padroes... como o de beber, custe o que custar, por exemplo.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

per la fidanzata

Estava rolando pela Austria e os chocolates locais me tomaram de assalto, estupraram minhas narinas e raptaram minhas papilas. Me flagrei derretendo tudo de amargo garganta abaixo e pensando no amor; uma boa formula pra dulcificar a alma e absorver as saudades.

Nesse doce transe, paralelei sobre o equilibrio de opostos: assim como o segredo do chocolate eh o amargo do caroco torrado do cacau com o contraste do balsamo do acucar, a saudade eh fascinante porque eh a arida falta no mesmo lugar que a aconchegante lembranca. Romeu e julieta.

Entao mergulhei em aguas mais profundas e tudo ao redor parecia irreal e real (melhor dizendo, um novo mundo abstrato e nobre). Senti uma forca fluida que me envolvia totalmente e me deixava mais leve, percorrendo meu corpo como endorfina na corrente sanguinea e me causando uma sensacao assustadora: a de confrontar com um mundo ao mesmo tempo familiar e complexamente novo. Como o segredo do chocolate.

Enquanto flutuava, um calafrio desde o coccix ate a nuca me fez espirrar e uma pedrinha branca  saiu da minha boca. Como uma semente flutuante, bem diante do meu rosto comecou a crescer rapidamente e se tornou uma especie de alga cheia de tentaculos, que se enrolaram rapidamente por todo meu corpo. Senti milhares de prazerosas espetadinhas que me fizeram sentir verde. Agora estou clorofilado, pensei, e sou parte da natureza enfim. O frio, calor , medo e conforto ao mesmo tempo me deixavam perplexo e anestesiado. Tudo que podia fazer era relaxar e finalmente me entregar a meus instintos, deixando que tudo aquilo penentrasse sem reservas nas minhas visceras. Fechando os olhos, uma luz laranja-quente quase me ofuscava e eu me lembro de ter pensado: como estou conseguindo respirar normalmente nessa profundidade?

Tudo isso sendo levado pela corrente, suave, constante e segura. De repente percebi que minhas maos estavam todo esse tempo fechadas, e os cristais continuavam crescendo nas minhas palmas.

sábado, 5 de julho de 2008

flickr


Eu tambem flickro. Vou colocando os flyers das festar por la.
abracos a todos.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

quinta-feira, 3 de julho de 2008

tecnologia - a grande esfinge


Sempre fui meio cismado com a tecnologia. Fiz de tudo pra nao aderir ao celular (achava um aparelho superestimado, me sentia perseguido, invadido e nao queria viver radiação eletromagnética na orelha, rs) e nao vejo televisao ha anos, simplesmente porque me recuso a dar muita importancia pro bizarro mundo da mídia e do entretenimento descartável/apelativo. Acho que o mundo seria bem melhor se esses dois aparelhos deixassem de ser o centro de tudo - e infelizmente sao.

Com computador tambem tinha essa resistencia a tecnologia, mas de uma forma diferente. Sempre adorei computador, so tive meu primeiro tardiamente - 1998* ,sempre usei intensivamente desde entao, mas me recusava a aderir a novos softwares, novas versoes.. meio que evitando ser dragado e manipulado pela "industria" que te empurra upgrades o tempo todo.

Mas te digo que comecei ha uns poucos anos a ver que essa postrura me prejudicava. Por exemplo, todo mundo sabia usar um celular "fluentemente", e pra mim tudo alem do basico ou os novos aparelhos eram um grande misterio. Eh como nao falar uma lingua essencial.

Internet: hoje geralmente eu deixo e ligada 24 horas, porque se nao estou baixando musica e filmes (nao adianta, a quantidade de musicas e filmes que eu gostaria de baixar eh INFINITA, ja me conscientizei), estou disponibilizando eles pro mundo. O orkut, por exemplo, voce escolha o quanto vai se expor (Por isso sempre vi com desconfianca quem tem "medo" de orkut). Alem do mais, todo meu trabalho eh centralizado no computador, principalmente as relacoes sociais feitas pela internet e a atualizacao de musicas e noticias relacionadas.

Um parenteses: Nesse momento, tou na Austria, na casa de um novo amigo, o Herbert, gente finissima. Onde nos conhecemos? Atraves do myspace. Meu amigo Ze', que arrumou hospedagem pra mim em barcelona tambem foi por myspace. Todo mundo sabe, ja casei com uma pessoa que conheci no Orkut!

Upgrades: faco sem questionar. As versoes novas sao sempre melhores, com menos bugs, assim como opto por computadores novos, sempre que posso.

Na real, o problema nao eh a tecnologia, e sim como a gente usa. Quanto mais tecnologia melhor, contanto que nao venha em forma de desperdicio. Mas quanto mais tecnologia, mais eh necessario saber usa-la. Ela sempre pode ser uma grande amiga, e evita-la eh o mesmo que temer administra-la. Eh fugir do pau. Administra-la eh essencial pra estarmos sempre em dia, compativeis com o mundo, afinal de contas quem nao se renova, envelhece; quem nao a decifra, eh devorado.



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* - Tardiamente se voce considerar que meu pai trabalhava com informatica desde 1974 e nos anos 80 foi dono de uma empresa de software, tinha dezenas de computadores. Em 87 eu ja sabia programar em basic, dava aulas de DOS, em 89 entrei pra faculdade de informatica, mas nem assim ganhei o meu. Pois bem, em 98 ele faleceu e so entao eu tive meu primeiro PC - o pessoal dele, que 'confisquei' pra mim.

terça-feira, 1 de julho de 2008

ibiza y formentera


farol de la mola, formentera

Antes da Austria resolvi passar em formentera, afinal Valencia é do lado. Nesses 13 anos Ibiza mudou demais - o turismo ficou mais intenso, de gente com menor renda, guiada pela moda, faixa de idade menor e que vem pensando em se acabar nas drogas, e nao em curtir a ilha. Onde esta o pessoal que frequentava ibiza nos aureos tempos ate o comeco dos 90? Em Mikonos, pelo que me disseram. Se Ibiza ja nao me atraia tanto antes, agora entao.... Fui direto pra Formentera, que fica a 25 minutos de catamaran.

Formentera nao mudou quase nada. Continua um lugar rustico, tradicional, tranquilo, o mesmo cheiro e a mesma luz, ambos incomparaveis. Um pouco mais tomado por italianos e alemaes, mas so essa epoca do ano. A unica diferenca marcante (pra mim) eh que nao existem mais as tradicionais mobiletes pra alugar, so vespas pra cima. Aluguei uma bike (afinal, é uma ilha de 82 km quadrados) e fui me aventurar. Pra chegar em la mola levei mais de uma hora, e metade do percurso ladeira acima. Voltei ja de noite, pernas megadoloridas, me perdi um pouco (um brêeeu!), fui atacado por um sapo no queixo, mas foi muito divertido e um otimo programa introspectivo. Agora sao 23:30, vou sair daqui da lan house, tomar um banho e dormir um pouco antes da noitada, que comeca as 3.

Cheguei sem ter nada planejado e sem ter falado com ninguem (soy viajero freestyle..).Por sorte encontrei o dono de um bar onde toquei em 93/94, ele esta com um novo bar bem legal e bem sucedido(patchanka), adorou me ver, ja providenciou lugar pra eu ficar e hj de noite disse que ia chamar mais conhecidos para me ver.

tomates da andaluzia

Ontem mesmo em Valencia estava pensando o quanto os tomates sao gostosos, fora que voce pode encontrar varios tipos.. Ate o tomate cereja eh mais gostosinho. Pois hoje puxei papo com uma valenciana que veio a ibiza (uma das melhores coisas de viagens é isso, puxar papo com o povo o tempo todo!) e ela era de Andaluzia. Por coinscidencia ela comecou a falar da qualidade de vida de la, e da comida que era muito boa, e falou "os tomates de Valencia nao sabem a tomate, os de andaluzia que sao bons"... Taí, entrou pra minha wishlist.

(post escrito ontem)