quarta-feira, 23 de julho de 2008

u-hus

ilustracao:Shag

Sempre tive dificuldade de entender quem acha a vida chata, "dura" ou sem opções.
Pra mim a vida é uma sucessão de descobertas. A sensação de que, mesmo que eu viva 101 anos, não terei tempo pra conhecer, aprender, ver e curtir tudo que quero é uma das minhas maiores frustrações. Talvez a única realmente..

Estou sempre descobrindo estímulos... E, claro, sempre procurando formas de descobrir mais. Acho que assim se pode ter uma vida excitante sempre, afinal, o que não faltam são estímulos nesse mundão. Everywhere. Os problemas, então.. são os estímulos mais desafiadores! Não tenho medo deles.

E olha que eu podia reclamar, porque alem de ter como principal fonte de renda uma sub-profissão, é também uma sub-profissão dentro de um meio artístico.. Posso não ganhar dinheiro, mas me divirto um pouco! ;) Pelo menos é uma sub-profissão com uma ideologia clara. Pra mim a ideologia é fundamental, é o diferencial de ser um bom profissional.

Me ocorreu agora: viver é como discotecar. É uma função coletiva, social, mas em primeiro lugar você tem que tocar pra si mesmo, afinal se não tiver prazer naquilo, não vai passar esse prazer pras pessoas.
Se você tem um repertório pequeno, tudo vira rotina. Se você tem um repertório maior e rico, pode escolher exatamente o estimulo adequado pra cada momento.. se tiver o feeling, claro. Por isso é a junção do esforço de sempre conhecer novos estímulos (a chamada pesquisa de repertório e forma de mostrá-lo, que nunca acaba) com sempre sentir a atmosfera, como as coisas vão fluindo. E dançar conforme a musica também, claro. (O que seria de nos se tivéssemos os quadris rígidos? Vejo claramente que é terrível ser rígido, levar certas coisas muito a serio ou só se satisfazer se algo acontece naquele padrão pré-determinado pela nossa cabeça.)

Um DJ sabe também que uma pista não deve ser o tempo todo super-estimulante ou apelativa. Por exemplo: é fácil fazer uma criança gostar um doce atrás do outro (overdose de açucar que não nutre). Mais dificil é fazer ela apreciar o sabor mais sutil de uma fruta, de uma verdura.. rsrsrs.. Na pista é o mesmo: Existem as transições, existe o esfriamento, a troca de feelings, o relaxamento pra depois o estimulo volte com mais força e mais prazeroso. Toda boa história tem altos e baixos, e um DJ, como o maestro dessa "historia", deve saber conta-la com continuidade e coerência. E deve sobretudo saber o perigo da "facilidade dos U-hus", que não devem ser gratuitos, fáceis, se não as coisas vão ficando genéricas e mundanas demais. . Afinal, quem se vicia em hiper-estímulos deixa de reagir aos estímulos sutis.

3 comentários:

Babado e Gritaria! disse...

ah, se todos discotecassem como você! ;)

Anônimo disse...

Amei sua comparação da arte de viver com a arte de discotecar! Por isso, além de ser o melhor DJ de todos vc sabe mto bem como levar a vida da melhor maneira. Isso não é pra qq um....bjssss, priminho, saudade! Ah, adorei o cartaz com a sua foto (é cartaz mesmo?)

Unknown disse...

boa Lucio. deu saudade de discotecar contigo. bora armar uma?