sábado, 25 de outubro de 2008

DJ - uma profissao com cada vez mais responsabilidade..


As vezes encontro uns colegas de profissão que reclamam da inflação de DJs de hoje em dia. Dizem que em cada esquina tem um DJ, que filho de famoso ou modelo nao sabe o que ser e "vira" DJ, que o publico compra charlatões que tem um bom marketing etc. E eu sempre chamo atenção pro lado bom disso. Digo que com a quantidade de "paraquedistas" na area, finalmente o publico vai aprendendo a diferenciar.. Digo que quem é ruim, pode enganar alguns por um tempo, mas nao se sustenta. Sempre me alivia ver que DJs que nao gostam realmente de musica acabam nao se sustentando. Mas vim falar de outra historia, pra exemplificar a importancia de ser DJ hoje em dia:

Semana passada fui no meu banco, conhecer enfim o gerente (que está há anos lá), que tem cerca de 45 anos. No meio do papo, eu comentei que viajava muito e ele perguntou o que eu fazia, e eu disse que era DJ.
Entao ele falou “Po, então me diz uma coisa.. Essa semana mesmo estava conversando com um amigo meu, e estavamos nos perguntando por que até os anos 80 as musicas eram boas, tinham uma certa qualidade, e hoje em dia é tudo porcaria, descartável. É porque a geração de hoje é diferente, e eles gostam mesmo de lixo?”

Tentei ser resumido. Mas, como profissional da musica, tinha que dar uma resposta que esclarecesse bem. Então disse mais ou menos assim: “Não, eles nao gostam de lixo, eles são levados a consumir. Mas isso acontece por duas coisas: primeiro, nos anos 80 o marketing se sobrepos à música, à arte, portanto a prioridade passou a ser vender, e não oferecer música de qualidade. Isso forma um ciclo destrutivo: As gravadoras viraram indústria, e pararam de arriscar em coisas originais: só lançam o que elas tem certeza de que vai vender. Como eles são marketeiros, publicitarios, eles nao entendem de música. Por isso que esse esquema tá todo desmoronando agora. O outro motivo é que temos mais de 15 anos de jabá instaurado no Brasil. Ou seja: tudo que o publico ouve em radio e tv teve grana por fora pra ser veiculado. Isso reforça ainda mais o ciclo do primeiro motivo, entende?”
Ele pareceu entender o sentido da coisa. Ná próxima vou tentar ser mais resumido.. rsss.. é dificil, num assunto como esse.

O consumidor nem se toca desse processo de manipulação, muita gente ainda acredita que as radios e TVs selecionam o que há de mais interessante para mostrar ao publico, e não é verdade. As pessoas também não sabem que é uma máfia, envolvida com política até o pescoço, essa coisa de concessão de transissão de radio e TV.

E é por isso que o DJ será uma figura cada vez mais importante, porque só o DJ pode, dando a volta nesse sistema pobre e destrutivo que vê a musica como caça níqueis, pesquisar, selecionar o que ele, e o amor à musica dele, acham que é interessante, adequado, valoroso e servir de ponte entre a musica e o público. O problema tambem é os DJs terem essa consciência e/ ou conseguirem a liberdade de fazer um trabalho menos comercial. A maioria deles precisa trabalhar pra esse sistema, e acaba colaborando com o ciclo – de padronização cultural – ao inves de possibilitar a diversidade e liberdade musical.


veja tambem um texto meu que sobre o que é um bom DJ aqui.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

corpo, alma


Nossa cultura ve algumas coisas de forma muito curiosa. Sempre questionei a nossa relação psicológica com o nosso corpo. A gente constuma pensar no corpo como um “outro”, como algo meio independente de nós, como se ele não fosse nós mesmos, e sim um parceiro com quem temos uma relação de permuta: temos que tratar bem dele pra ele dar o que queremos. Em casos mais graves (e infelizmente mais comuns) o tratamos como escravos: damos o mínimo do que realmente importa a ele e exigimos que ele aparente o melhor possivel, porque não estamos realmente preocupados com ele, e sim com a imagem dele nos favorecendo.

Talvez haja uma supervalorização da “alma”, que é uma certa ‘entidade’ que nunca ninguem provou realmente que existe e a vemos independente do corpo. E na verdade o corpo vem primeiro, ele sim possibilita a alma estar sadia. Se nos preocupamos com o preparo e a sanidade do nosso cérebro, porque as vezes somos tão relapsos com nosso corpo? Muitas vezes ainda o sobrecarregamos: colocamos quimicas pra fazer ele agir contra sua vontade, contra seu ritmo e reações naturais, e literalmente nos agredimos sem a menor consciência. As pessoas tinham que ter o habito de amar mais seus corpos. Tirar um tempo do dia todo dia para senti-lo, observa-lo, acaricia-lo, ama-lo.

O corpo não é uma escultura, não é uma imagem pra atrair e impressionar. Ele é nosso veradeiro “templo”, ele é sagrado, ele é inerente e indispensável a nossa alma, ele nos protege, ele nos dá liberdade, nos apóia, nos dá sensações, quarda nossas recordações e histórias de vida. Recordo uma história em que a Fernanda Montenegro reagiu a uma critica sutil as suas rugas dizendo “tá louca que eu vou tirar elas? Você não sabe quanto tempo de vivencia eu precisei pra adquiri-las!”.

Nosso corpo nos dá dimensão, volume, nos liga a terra, nos faz sentir que existimos. Acho que pode ser destrutivo pensar no corpo como um recipente que abandonamos pra voar para um plano melhor, ou supervalorizar a “alma” (o que quer que ela seja) reduzindo o corpo a um veículo provisório. Talvez esse seja um dos motivos que nos faz tão relapsos com nosso corpo, uma herança de séculos de crenças que o diminuem. Além do mais, se voltar pro próprio corpo é um exercicio de auto-conhecimento. Aceita-lo em sua diversidade, sem impor a ele que siga um padrão pré-estipulado-por-sabe-se-lá-quem é preservá-lo de uma tirania, se recusando a banaliza-lo. É principalmente se conectar com sua verdadeira essência, algo raro nos dias de hoje.

Sem o corpo, não há alma. Nossa energia pode até transmutar em outras coisas, mas nossa consciência, desta forma que temos hoje, só vai existir mesmo nesse nosso injustiçado corpo. Acho que o ser humano só ganharia supervalorizando menos a “alma” e valorizando mais seu querido corpo.

domingo, 19 de outubro de 2008

VAMPIROS DE IMAGENS


As vezes acho que a festejada "cultura do individualismo e da liberdade" é uma desculpa pra ainda mais alienação: é como houvesse um plano para, através da 'maquina do sistema', primeiro se tirar a cultura, a intuição e até a liberdade das pessoas e faze-las de ovelhas que acreditam que tem livre arbítrio, qualidade de vida e um rico leque de opções de vida. Então, aproveitando que elas estão sem esses privilégios, depois a fazem acreditar que os valores estão baseados em consumo, e além de venderem supérfluos insalubres, ainda vendem "antídotos", num processo parasitário. Diante desse quadro, sobram carcaças vazias que vivem pra trabalhar (e nao trabalham pra viver, o que seria o ideal) e tudo entra em um ciclo vicioso: diante dessa pressão pela produção a todo custo, não têm sequer tempo para buscar alternativas ao pré-moldado que lhes é empurrado. Frustradas, as pessoas tentam preencher esse vazio de forma errada, paliativa. E adivinha quem tambem dá esse paliativo de forma fácil e tambem pré-moldada? Não precisa ser visionário pra sacar que é a mídia. Tanto a industria de "entretenimento" - a espetacularizacão de tragédias, de produção de "ícones-ilusões-de-ótica" - quanto a midia que está mais em "plano real" - a publicidade. O negócio é criar uma imagem agregada a um status social e vende-la (assim como é feito com as mercadorias de consumo) como indispensável.

Ok, há séculos a historia da humanidade tem se baseado em imagem. Já na idade média a aristocracia vivia de uma imagem, uma máscara, e era seguida pela burguesia, que tambem tinha como um dos valores prioritários cultuar e perseguir essa imagem aristocrática e ostentar, glamourizar e mascarar sua vida. Assim se pode ver na obra de vários artistas que satirizavam a hipocrisia social como Moliere (As Eruditas), Balzac (especialmente "Comédia Humana"), Oscar Wilde (Retrato de Dorian Grey). Como evoluimos, obviamente nossas doenças evoluem junto. Hoje a mídia não só vende o culto de status ou objetos, mas pior: cria e vende, com toda a parafernalia tecnologica de que dispõe, a imagem desses objetos, que obviamente não condizem com a realidade. Tudo é espetacularizado, glamourizado, vendido como "modelo". Desde a rotina de "big brothers" até a vida de jogadores de futebol, de infelizes assassinos a atrizes e apresentadoras de televisão cujo unico curriculo é terem dado pra homens famosos..

Assim se faz uma relação de fetichismo popular por imagens idealizadas, junto com uma frustração, a de nunca alcançar estas imagens. É uma relação nada sadia: ao mesmo tempo há a admiração / a inveja; a super-valorização do outro / a desvalorizacao do self. Isso dificulta ainda mais as pessoas de entrarem em contato com sua grande verdade - que sempre está dentro delas mesmas. Buscam, desesperadas, representantes de dimensões de humanidade que o homem comum já não reconhece - o que dirá encontra - em si mesmo.

Predomina a imagem sobre a personalidade, a aparência sobre a "essência", e isso é uma das maiores características da cultura urbana contemporânea. Como o mercado é totalmente mancomunado com os meios de comunicação de massa, a mídia produz os sujeitos de que o mercado necessita, prontos para responder a seus apelos de consumo, numa simbiose de dois monstros parasitas. Por outro lado, o consumidor vive para valores fúteis que o fizeram crer como essenciais, e se torna tambem um vampiro, pois por mais que consuma o "remédio" dado, sempre estará sedento, sem saber exatamente de quê. Só que ele é parasita de si mesmo, ou melhor, ele é um cúmplice do parasitismo sem perceber, pois se permite parasitar.

Até a espiritualização virou indústria, aliás, uma das que mais arrecada dinheiro. Pois é óbvio que as pessoas, diante desse vazio, percebem que mesmo consumindo, a aflição do esvaziamento de essência e sentido continua. E vão buscar um lenitivo mais forte, a suposta "espiritualidade" que supostamente deveria se basear na riqueza da troca com o mundo e a busca de auto-conhecimento e hoje vem tambem em forma de mercadoria, pré moldada, de fácil consumo. Claro que é preciso ter "fé" em qualquer coisa que pareça uma bóia de salvação para desconcentrarmos desta falta de sentido, esse empobrecimento e massificação dos nossos valores essenciais.

O resultado é, como tudo em uma sociedade imediatista, um apodrecimento, um esgotamento das bases, e um inevitável desmoronamento da estrutura atual, que já está em plena decadência. Talvez se não fosse por esse imediatismo, todos iriam enxergar que todo mundo acaba perdendo com um empobrecimento geral de uma sociedade que só consegue "enriquecer" às custas destas vidas expropriadas, e baseadas em ilusões. É ilusão pra te vender coisas, é ilusão pra te fazer alimentar mal, é ilusão pra te vender remédios e soluções milagrosas pra todo lado. Há parasitismo em mais lugares do que se parece, o que deixa todos debilitados. E é dificil enxergar esse empobrecimento justamente porque faz parte do jogo o sistema fechar os olhos das pessoas para isso, fazendo-as acreditar que, abarrotadas de mercadorias, gozam de uma riqueza excepcional, o que as deixa ainda mais perplexas.

Saídas práticas e positivas? Aprender a identificar os "parasitas", compreender toda essa "máquina descontrolada" e passar adiante a compreensão, não pregando, mas informando, proporcionando pensamento, discussão, reflexão. Talvez sua missão no mundo inclua isso, quem sabe? ;)


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Dedicado à minha amada e iluminada Aleta.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

machismo vs feminismo

barbie-mulher-maravilha: desde cedo as meninas ja sao subliminarmente programadas para o modelo de perfeicao feminina, e claro que de um ponto de vista masculino.

A gente nao se dá conta, mas há uma guerra dos sexos, de pano de fundo, na nossa cultura. E sempre haverá, enquanto a maior parte nao enxergar e desvendar as desigualdades envolvendo os gêneros. De um lado, uma sociedade que ainda tem uma herança machista, que oprime e pressiona a mulher de uma forma principalmente tácita. Do outro, mulheres que não se conformam com essa desigualdade e ficam num dificil lugar onde se dedicam a chamar atenção para os desequilibrios entre gêneros e machismo do mundo. "Dificil", porque é um ingrato posicionamento ideológico: se por um lado se tem que puxar a balanca pro centro, se faz uma força oposta muito grande. Por isso as pessoas confundem esse conceito do feminismo, que nao é o contrario do machismo, e sim uma tentativa de proteção contra o machismo. E tambem por isso que é tão comum defensoras da igualdade feminina cometerem o feminazismo, o radicalismo geralmente contendo rancor e raiva, que é igualmente despropositado e destrutivo. Porque só alimenta essa "guerra de sexos". E lutar pela paz é um contrasenso, e um pecado recorrente de muitos militantes: a linha que divide militância e radicalismo é muito tênue.

Vi um filme em Barcelona, numa exposicao dedicada a Agência Magnum, chamado Aka Ana, filmado em 2006 em Tóquio, do diretor francês Antoine D'Agata. O filme mostra depoimentos, dos mais profundos, de prostitutas japonesas, e uma fotografia que te leva ao mundo mais íntimo delas. Saí da sala de projeção estarrecido. Foi uma experiência muito forte, porque nunca vi um filme que falasse de uma forma tão crua e profunda da natureza feminina, da fragilidade que envolve a sua condição, da questão de lidar com a sexualização do mundo regido pela visão masculina, das 'leis' que a vida impõe à mulher, ainda mais naquele contexto. Isso tudo se intensificou ainda mais porque estava acompanhado de uma amiga que ja teve uma experiencia de estupro. Realmente sai branco, com olhar perdido e a consciência de que provavelmente nenhum homem vai um dia saber exatamente o que é, realmente, a condição feminina, os conflitos, a responsabilidade de ser tanta coisa que lhe é projetada, a pressão da sociedade em tantos aspectos, a subjetividade e sobretudo o milagre da maternidade. E isso me faz compreender mais as mulheres que piram com isso, e as vezes passam dos limites. Nao é pra menos.

E por este equilibrio homem-mulher ser uma condição tao delicada, e por serem necessários tanta evolução e altruismo da raça humana para lidar de forma equilibrada a respeito, não sou otimista. Como o mundo está cada vez mais individualista, as pessoas cada vez mais fechadas e incapazes de se relacionar, compreender e tolerar as diferenças, do jeito que as coisas estão cada vez mais imediatistas e capitalistas (em uma sociedade onde todos querem comprar as soluções, e nao trabalhar por elas) eu cada vez mais acredito em uma antiga profecia minha:
Como sou fã de ficção cientifica e de previsões fantásticas, acho que nesse seculo nós ainda vamos presenciar um conflito social (e sexual) gerado pela tecnologia. Se imaginarmos que não ha limites tecnologicos, um dia desses os japoneses vao lancar uma sofisticada mulher artificial para fins sexuais (como ha em blade runner, meu filme preferido). E eu acho que os valores dos centros urbanos do mundo tao caminhando pra um lado tão vazio e consumista que isso vai ter um mercado grande entre infelizes homens solitários, acomodados, imediatistas, sem vivencia ou simplesmente machistas e misoginos, em um mundo cada vez mais regido por imagem e menos por valores essenciais. E certamente vai gerar uma (in)revolução de costumes. Se pararmos pra imaginar as possibilidades, nao é nada animador. Mais um exemplo de que a tecnologia, se usada somente pra suprir o comodismo e imediatismo humano, pode ser uma enorme inimiga.

Será que o ser humano vai acordar a tempo para resgatar (Desde ja) a vida de verdade? Resgatar o valor da complexidade tão bela das relações, que são essenciais pra nossa evolução como humanos?
Veremos nas proximas décadas, mas correndo o risco de parecer feminista (ou machista, pra alguns pontos de vista), sinceramente eu acredito que a mulher tem até mais poder pra mudar esse destino - espalhando sua compreensão e sensibilidade, se negando a ser o que o mundo machista espera dela para ser ela mesma e botando pra fora o seu poder e sua inteligência emocional, que são tao reprimidos, há tantos seculos, que precisam de uma sacudida pra acordar realmente.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

london




Passagem rapida por Londres pra encontrar meu publisher, que lancou meu primeiro CD (Dr.K - SwingSambaLounge), que fiz ha 5 anos. Colocamos papos em dia, atualizamos contratos e fizemos planos pra tour do ano que vem. Fiz uma sessao de fotos pra imprensa pro Dr.K no Tate museum. Adorei a 'equipe' da Curve Music (Lizi, brasileira, e o Greg ruivao), e o fotografo brasileiro Arthur. Deu tempo de passar uma tarde passeando pelo Soho vendo lojas de discos e camisetas bacanas. Terca conheci finalmente o Guanabara, o famoso Club Brasileiro. Um clima bom, cheio de brasileiros e, claro, ingleses que querem encontrar gente que tem dendê e samba no pé. Hehe.

Londres eh a capital mundial do "sorry". Incontaveis os sorrys que escutei nesses 2 dias. Concluo que seja, por isso, o lugar mais civilizado do mundo.
Londres ta mais cara que nunca. Dois dias apenas, e so pra locomocao dentro da cidade (metro, onibus e trem pro aeroporto) foram 28 libras, o equivalente a uns 85 reais... Tem que ter cacife.

Momentos mais marcantes:

- Ver pela primeira vez o meu primeiro cd em formato fisico, e com selo prateado holografico e tudo. Ele foi prensado na Ucrania e em breve sera na Inglaterra.
- Ser clicado por uma rolleiflex 1948
- Ver o trabalho de artistas brasileiros cobrindo as paredes externas do Tate museum
- Receber o carinho e respeito do pessoal da Curve Music. Sou o unico DJ/Produtor do label, e recebi elogios do album do tipo "classico desde que nasceu", "parece uma viagem de aviao, comeca ja decolando, te deixa descontraido e acaba chapante", "quase abriu um buraco no cd, porque nao saia do meu cd player", "me faz dancar em qualquer lugar sempre que eu o ouco".

sábado, 2 de agosto de 2008

bristol 2


Bristol parece uma Londres mais relaxada, tranquila, pessoal muito amigavel, tou curtindo bastante.  Ontem toquei na Festa Brazilian Beatz (foto acima), 400 pessoas amarradonas pra ouvir so musica brasileira a noite toda, e a maior parte de ingleses, o que eu prefiro, pois voce pode entrar mais num conceito, mostrar coisas novas que eles se amarram. Fiz meu live e toquei muitas coisas de musica brasileira com influencia de ritmos eletronicos. Claro que o som do club era uma maravilha, os subgraves batendo bonito e fazendo todo mundo feliz.

Na pista 2, o lendario DJ Derek 75 com um corpinho de 74, tocava com com MDs um reggae de primeira qualidade, e ainda dava uma de MC com sotaque jamaicano! Amazing.

A noite foi perfeita. No dia seguinte eu encontrava as pessoas pela cidade e todos varios me disseram como se amarraram, adoraram a diversidade e a mistura de estilos com a musica brasileira.

Dormi na casa do Claudio, um dos socios da festa e professor de capoeira que coordenou a roda que se apresentou no meio da noite, e que foi excelente. Ele entrou pra imortalidade quando gravou a controversa introducao do ultimo disco do portishead. Foi contratado por 300 libras pra recitar um pequeno texto em portugues, e me falou que o texto nao tem nada de radicalismo religioso, apenas eh um texto falando de karma, dizendo que o que voce faz, sempre volta pra voce em triplo. Ainda disse que o pessoal do portishead ia gravar em espanhol, mas resolveram em portugues devido a popularidade do Brasil por aqui.
Foi legal amanhecer em Totterdown, o bairro que eu ja conhecia apenas de ver em um clipe do portishead. 

Hoje toquei pre centenas de pessoas num festival que foi das 11 as 19h, com o Kacey, entre as bandas. A que eu mais gostei foi a banda de swing-folk-jazz-balcanica Sheelanagig, que mostrou que tem muito ingles com swing, num show divertidissimo e performatico. 

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

bristol


Cheguei na terra do drum'n'bass e do reggae. Cidade do Banksy! Bristol me parece bem legal. Olhem a estacao ferroviaria, que graca.
Meu camarada Kacey, um ingles descendente de iranianos que adora o Brasil, me encontrou no meio da rua depois da gente desencontrar na estacao (segunda vez que acontece isso na viagem, muita coincidencia) e fomos tocar ontem uma festa de caridade num clubzinho local. Quando entrei, um dj e dubstep tocando e os subgraves bombando. Subgrave eh que nem uma droga, fez efeito na hora e eu gritei BRISTOOOOOL!!!! :) Dancei muito, logo depois tocamos e depois, drum'n'bass. Db eu sempre gostei, mas eh aquela coisa.. entrou numa formula ha um tempao e todos os djs que ouco me soam cansativos. O que eh mais legal eh o MC.. ontem havia dois excelentes.
Os ingleses sao aquela coisa: Otimos pra festa, bem dispostos. Mas dai encontrar algum que dance bem eh outra historia.. Kacey me falou que as mulheres adoram as festas brasileiras que ele faz, mas os homens ficam intimidados porque nao sabem dancar aquele tipo de musica.

Hoje vou tocar com Kacey de novo, e na pista 2, o lendario DJ DEREK, esse do video ai acima. Observem a figura lendaria de um DJ de 75 anos venerado pela garotada local. Bristol, a Jamaica inglesa, eh demais.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

conto infantil


Minha filha uma vez me confessou que morre de medo da professora perguntar algo que ela nao saiba responder. Disse que quando isso acontece, eh "uma das piores sensacoes da vida dela", e ela fica sem acao, os olhos enchem de lagrimas. Expliquei que ela tem direito de errar, que ninguem nasce sabendo, que nao eh vergonha alguma nao saber de algo. Ate apelei pro argumento de que ela eh crianca, que crianca nao precisa se preocupar com nada, isso de levar tudo muito a serio eh coisa de adulto. Claro que nao adiantou, ela alegou que "eh dificil mudar, certas coisas nunca mudam"

Entao fiz um continho infantil pra ela.. com muito amor. Transcrevo aqui pra exprimir minhas saudades.

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Era uma vez duas irmãs gêmeas: Lelê e Lili. Elas eram iguais em tudo, menos em uma coisa: A Lelê levava susto com tudo, e a Lili nunca se assustava. Ninguém sabia porque que as irmãs eram tão diferentes nisso. Quando alguem dava susto na Lili, ela ria, e não tinha medo. Já a Lelê ficava com muito medo de levar qualquer susto, o que deixava ela mais nervosa ainda. Qualquer relampago, bombinha de são joão, porta batendo ou até sombra a assustava, e toda hora tinha um novo susto, por isso Lelê chorava todo dia, dormia mal, e passava o dia cansada. Tambem nao queria fazer coisas diferentes, porque tinha medo de coisas novas: so queria ver televisao, porque quando assistia programas e desenhos era a unica hora que ela se esquecia do medo dos sustos. Na hora de dormir, Lelê nao deixava a irmã apagar a luz, porque no escuro, já que ela nao podia enxergar, tinha ainda mais medo de levar sustos. E Lili não entendia o motivo da irmã ser tao ansiosa. Muitas vezes Lili ate se divertia assustando Lelê, e achava que dando mais sustos um dia ela se acostumaria, mas na verdade Lili nao sabia que pra Lelê era MUITO horrivel levar susto, era uma das piores sensações. Um dia ela notou que a Lelê estava cada vez mais seria, triste e nunca se divertia, e ficou preocupada com sua querida irmã. Finalmente Lili se colocou no lugar de Lelê e entendeu como ela via e sentia as coisas de uma forma assustadora. Assim, passou a ajuda-la, não dando mais sustos, para a irmã ficar mais calma. Mas Lelê continuava assustada por tudo. E não adiantava dizer para ela que não tem motivo pra levar susto, porque Lelê ja sentia susto antes mesmo de pensar.

Uma vez os seus pais sairam de noite e elas precisaram ficar sozinhas em casa. Lelê ficou apavorada, e Lili dizia, calmamente, que não tinha motivo para ter medo. Lelê dizia que podia aparecer um fantasma na casa, mas Lili dizia: não existe fantasma, e mesmo se existise, eu faria amizade com ele! Entao elas foram brincar, mas Lelê sempre com medo. Quando estavam brincando de boneca, um vento fez a cortina da janela balancar, Lelê viu a sombra da cortina e levou um grande susto. Quis sair correndo e sua irmã falou: "olha, não foi nada, foi so o vento, ta tudo bem" e trazia Lelê de volta para o quarto pela mao. Lelê ficava toda hora olhando a janela, com medo, e de repente a irmã teve uma ideia para ajuda-la: Falou: "Lelê, ja sei porque você leva tanto susto. E so porque você tem MEDO de levar susto!" Lelê respondeu "Como assim? Não entendi" E a irmã explicou melhor "Se você não tiver medo, ai nao toma susto! Vou te mostrar: Deita aqui e fecha os olhos que eu vou tentar te dar um susto." Lelê demorou muito pra fechar os olhos, porque tinha medo ate do susto dado pela propria irmã, mesmo ela avisando que ia dá-lo! Depois, acabou deixando, e Lili fazia "BUU!" e Lelê pulava de susto, mas depois ela comecou a relaxar, e depois de umas dez vezes ela viu que não tinha motivo pra ter medo e levar susto. Então quando Lili fazia "BUU!" ela comecou a rir. E depois de vinte vezes, ela ja achava a palavra "BUU!" tao boba que ria mais ainda, porque não achava mais assustador, na verdade "BUU!" era ate uma palavra engraçada, e não tinha motivo pra ter medo dela! Passou a achar a palavra "BUU!" a mais engraçada do mundo.

As irmãs cresceram, e quando ja eram adultas uma vez Leticia falou pra Lisbela (eram seus verdadeiros nomes): "Irmã, nunca te falei isso, mas aquele dia em que você ficou me ensinando a não ter susto foi um dos mais importantes da minha infancia. Depois daquele dia passei a ver as coisas de forma diferente. Ao inves de ter medo do susto, eu tinha é coragem, e quando eu cresci mais eu entendi que é igual com todos os problemas da vida: Eles aparecem toda hora, e se você tem medo deles, eles são horriveis e tiram seu sono. Mas se você sempre vai em frente sem medo dos problemas, quando eles aparecem você sofre menos, e sabe lidar com eles de uma forma muito mais calma. Nunca te agradeci por isso, e quero dizer o quanto foi importante pra mim, e te agradecer agora". E deu um abraco forte na irmã. Entao, abracadas, dessa vez foi Lili que chorou. Não de susto, mas de felicidade.

terça-feira, 29 de julho de 2008

idiossentropias

   (foto: eu mesmo, ontem)

idioss
- vem de idiossincrasias. Coisas do meu universo interno particular mesmo. Voces sabem, eh a primeira vez que tenho um blogue particular. E eh estranho, nao sei se tenho muito jeito pra coisa, afinal.
entropias - eh o caos, a desordem. Porque eh assim que eu escrevo mesmo. Se eu fosse bom, ja teria partido pra coisas mais profissionais.
Mas como eh um blogue informal, sem compromisso de ser muito politicamente correto, e so pros queridos amigos mais intimos (e nerds), tudo bem.. Se eu escrevo umas linhas mal tracadas  ta tudo em casa. Eh so comentar, argumentar, sugerir. Mais deixem o nome no comentario se nao sai "anonimo".. e dai nao rola uma troca, que eh o sentido da coisa mesmo.

abs

um passo a frente.. e vc nao esta mais no mesmo lugar

Depois de 5 dias em Milano, minha viagem entra numa nova fase, e me mostra cores que eu nao tinha experimentado antes. A experiencia de tocar num festival Latino foi muito valida, e o pessoal por aqui teve um reconhecimento do trabalho que me surpreendeu. Num nivel mais pessoal, tou conseguindo aproveitar mais a viagem, curtindo o agora. E percebo o quanto eu posso ser dedicado: No momento em que resolvo me dedicar integralmente a minha viagem, ela realmente comeca a me surpreender. Podem haver decepcoes isoladas, mas quando voce se da bem com a vida, nao tem tempo ruim. Pode haver ignorancia por toda a parte, mas quando voce tem carinho e tolerancia com tudo, encontra sempre onde ta a luz, e sintoniza com o que eh importante pra voce, atrai pessoas com mentalidades afins, mesmo que esteja num lugar onde nunca espera que isso aconteca. Ou seja: a vida nunca decepciona! Esse eh o meu maior aprendizado ate agora, e estou me sentindo completo por estar passando por essa vivencia. Vejo como eh importante pra mim me permitir a experiencias onde posso exercitar o meu improviso com a vida, que pra mim eh o tipo de vivencia que mais ensina no mundo.

Italia eh um pais unico, foi muito bom vir pra ca pra quebrar alguns preconceitos meus, inclusive. Ate entendi mais os preconeceitos dentro da propria italia, onde ha rivalidades entre as regioes. Hoje ganhei um cd de uma banda italiana chamada PARTO DELLE NUVOLE PESANTI, que tem o som baseado na musica tradicional do sul da Italia, como a tarantella. (Aqui da pra ouvir uma musica deles, num video satirizando o presidente italiano, que consegue ser mais patetico que o bush). A tendencia mundial eh que grupos valorizem cada vez mais suas raizes, tenho dito isso ha um tempo e cada vez mais acontecendo. Agora estou louco pra conhecer a Sicilia.

Percebo a cada dia que meu caminho eh buscar a essencia das raizes. Que a melhor forma de entender e lidar com a vida eh se livrar o maximo da futilidade de desejos glamourosos (que se analisados, so visam um status futil) e se aproximar da simplicidade das pessoas de 'verdade'(pra mim a maior parte delas certamente nao esta na minoria que eh muito privilegiada financeiramente) e dos ritmos, cores e lugares 'vira-latas', e eh por isso que gosto cada vez mais do Brasil.

Como a a troca, a vivencia, a interacao sao a coisas mais prioritarias pra mim, eu tendo a acreditar cada vez mais que o grande mal do mundo atual eh que ele eh regido por pessoas sem vivencia o suficiente, no sentido de interagir, trocar, se relacionar mesmo com os outros. Esta tomando o poder, a partir de agora, toda uma geracao que cresceu fechada nos seus apartamentos, seus carros e seus escritorios, e confesso que isso me preocupa..

quarta-feira, 23 de julho de 2008

u-hus

ilustracao:Shag

Sempre tive dificuldade de entender quem acha a vida chata, "dura" ou sem opções.
Pra mim a vida é uma sucessão de descobertas. A sensação de que, mesmo que eu viva 101 anos, não terei tempo pra conhecer, aprender, ver e curtir tudo que quero é uma das minhas maiores frustrações. Talvez a única realmente..

Estou sempre descobrindo estímulos... E, claro, sempre procurando formas de descobrir mais. Acho que assim se pode ter uma vida excitante sempre, afinal, o que não faltam são estímulos nesse mundão. Everywhere. Os problemas, então.. são os estímulos mais desafiadores! Não tenho medo deles.

E olha que eu podia reclamar, porque alem de ter como principal fonte de renda uma sub-profissão, é também uma sub-profissão dentro de um meio artístico.. Posso não ganhar dinheiro, mas me divirto um pouco! ;) Pelo menos é uma sub-profissão com uma ideologia clara. Pra mim a ideologia é fundamental, é o diferencial de ser um bom profissional.

Me ocorreu agora: viver é como discotecar. É uma função coletiva, social, mas em primeiro lugar você tem que tocar pra si mesmo, afinal se não tiver prazer naquilo, não vai passar esse prazer pras pessoas.
Se você tem um repertório pequeno, tudo vira rotina. Se você tem um repertório maior e rico, pode escolher exatamente o estimulo adequado pra cada momento.. se tiver o feeling, claro. Por isso é a junção do esforço de sempre conhecer novos estímulos (a chamada pesquisa de repertório e forma de mostrá-lo, que nunca acaba) com sempre sentir a atmosfera, como as coisas vão fluindo. E dançar conforme a musica também, claro. (O que seria de nos se tivéssemos os quadris rígidos? Vejo claramente que é terrível ser rígido, levar certas coisas muito a serio ou só se satisfazer se algo acontece naquele padrão pré-determinado pela nossa cabeça.)

Um DJ sabe também que uma pista não deve ser o tempo todo super-estimulante ou apelativa. Por exemplo: é fácil fazer uma criança gostar um doce atrás do outro (overdose de açucar que não nutre). Mais dificil é fazer ela apreciar o sabor mais sutil de uma fruta, de uma verdura.. rsrsrs.. Na pista é o mesmo: Existem as transições, existe o esfriamento, a troca de feelings, o relaxamento pra depois o estimulo volte com mais força e mais prazeroso. Toda boa história tem altos e baixos, e um DJ, como o maestro dessa "historia", deve saber conta-la com continuidade e coerência. E deve sobretudo saber o perigo da "facilidade dos U-hus", que não devem ser gratuitos, fáceis, se não as coisas vão ficando genéricas e mundanas demais. . Afinal, quem se vicia em hiper-estímulos deixa de reagir aos estímulos sutis.

terça-feira, 22 de julho de 2008

milano

                  (clique pra ver um pouco maior)
Meu live logo depois do show do Marcelo D2.. a noite promete!
Ainda tocar antes com Frank Sicardi (responsavel pelas compilacoes Sambass da Irma) e Emanuelle do projeto Nubraz

terça-feira, 15 de julho de 2008

venezia


Tirei segunda pra ir visitar Venezia, que fica a 180 km daqui. Acordei cedinho e, depois de um onibus e um trem, passei o dia inteiro andando na cidade das gondolas, das mascaras, das flores e da arte com vidro.

Fantastica. Quando se chega, ha o impacto, eh um cidade diferente de tudo, pois fica dentro da agua. Isso que " ta afundando" ou que "cheira mal" eh LENDA. Quem mora em Venezia quer um barquinho, um bote, uma gondola, e nao um carro. Simplesmente nao ha carros ou motos la. Sao consideradas 118 pequenas ilhas formando a cidade. Os turistas ficam enlouquecidos quando chegam la, mas surpreendentemente nao tava muito cheia. Havia movimento nas ruas principais, mas era so entrar pelas ruelas alternativas que se encontrava uma cidade tranquilissima, dava pra viajar nas peculiaridades locais.

A producao de vidro (a maioria vinda de Murano, do lado de Venezia) eh absurda. Tudo que voce imaginar, certamente encontrara uma versao vitrea pra comprar. Tudo. Muita arte experimental em vidro tambem. Lojas inteiras so de produtos de vidro. A contradicao eh que a a cidade vive de turismo, e certamente eh dificil convencer os turistas a levarem na mala elefantes e cavalos de vidro, grandes esferas, lustres gigantes. Tem que morar meio por perto, dai eles entregam. 

Uma das coisas que mais me impressionou foi o cemiterio. No meio do mar, relativamente afastado do limite da cidade, de repente vi um gigante retangulo, imponente. Esse eu coloquei foto no flickr, mas aqui vai uma bem melhor dele.

Fui a famosa praca San Marco, onde fora os pombos hippies interagindo com a turistada, tudo eh lindo (rsss). Viajei no Cafe Florian, certamente o mais charmoso da praca. Tirei fotos bem legais, mas de detalhes da cidade. As no estilo "turista" nao vale a pena postar, afinal qual o sentido de postar fotos feitas com camerazinha normal quando se pode ver muitas e muitas realmente decentes online?


segunda-feira, 14 de julho de 2008

cade a ideologia que estava aqui?



Pois eh, acreditem ou nao, parei num festival anti-racista na Italia, e agora sim, um sabado, tive a nocao maior de como funciona isso por aqui.

Dessa vez fui sozinho, tocar a segunda vez no festival. Cheguei umas 18h e ja estava cheio de gente, entao observei o dia inteiro as pessoas, tentando descobrir onde estava o lado mais ideologico e militante do festival. A camisa de um grupo de hip hop que tava passando o som tinha escrito "grupo tal odeia o racismo". Na minha frente, no refeitorio, um italiano sem camisa exibia uma tatuagem enorme no peito com a frase "life is pain" (sim, escrita assim, em ingles), e outro do meu lado com uma grande no antebraco, " love & hate". Outro grupo exibia uma camiseta com um logo com a frase "good night white pride", supostamente representando um racista sendo nocauteado. Sera que um pessoal que esta engajado dessa forma numa causa anti-racista ja nao deveria saber, a essa altura do campeonato, que odio contra odio so gera mais odio?

Mas no geral o clima era tranquilo, como o de comportadas ovelhas. Quase todo mundo com cerveja e cigarro na mao. Durante o dia o lugar parecia uma colonia de ferias sem muitas opcoes de entretenimento. Estranhamente o palco principal (e unico) ficou ate 21:30 (ainda dia) vazio. Depois, so duas bandas (ja que eles tem que parar 3h, pois mesmo sendo no meio do campo, leis sao leis..), a primeira foi de hip hop, daquele tipo tradicional de 20 anos atras, e logo depois uma banda de rock punk. Pra fechar a noite, um dj de drum'n'bass pesado.

Nas barracas, dezenas de imagens do Che Guevara, (sempre bom lembrar que foi um dos mais belicos assassinos do seculo XX, oportunamente transformado em martir do marketing do comunismo apos sua morte) vendendo adoidado em bones, camisetas e bandeiras. Eh evidente que idealismo de butique faz sucesso. Toda hora via camisas negras de bandas ancias: motorhead, iron maiden, sex pistols, metallica, a mais nova delas de 20 anos atras. Ja nao se fazem mais icones como antigamente? Frequentemente me vejo vivendo entre cliches datados ou distorcidos (como o caso do Che, por ex).  

Acho que enfim comeco a entender porque ouco tanto a frase "nasci no tempo errado" entre a garotada. Quem tem 18 anos hoje em dia deve se sentir vivendo em cima de valores clonados, e eh compreensivel que exista o desejo de ter vivido os originais, entao eh criada toda essa nostalgia deslocada. E entao fica mais compreensivel analisar como eh difcil fazer coisas de vanguarda hoje em dia. A absorcao eh dificil , ja que o pessoal ta tao condicionado a consumir pastiche de pastiche. 

Um parentesis: Lembro que quando cheguei em valencia e tinha um grupo enorme de adolescentes em frente a ferroviaria fantasiados de anos 80. A moda 80 realmente ta no apice agora, e voltou de forma caricata, tudo muito colorido, cheio de quadriculados, estampados de zebra, maquiagem carregada, rasgados e mullets. Aquilo foi muito divertido, porque me senti dentro de um comercial do gel new wave (lembram?). Fora o pessoal caracterizado de punk, parece que seguem uma rigoroso dress code definido ha no minimo 20 anos.

Ai lembro de um dos meus filmes preferidos, o invasoes barbaras , que satiriza a decadencia das religioes e a carencia de novas ideologias. Entao vos pergunto, qual o caminho, qual a ideologia? Eh ser cetico? Niilista? Partir pra desconstruir tudo, com uma mentalidade terrorista ou partir pra odiar e matar quem nao pensa igual, como nosso comandande Che? O pensar ecologico nem eh mais uma opcao hoje em dia, eh um dever, e eh dificil quem realmente pensa verde de modo realista (A maioria se orgulha de nao usar sacola de plastico pra ir no supermercado mas deseja trocar de carro todo ano, por ex.).

Fico mais, em primeiro lugar, com o bom humor. Rir pra nao chorar. Por isso que meu artista preferido eh o Banksy, que esfrega na cara da sociedade as hipocrisias e as stronzatas, como se diz aqui na Italia. Fico mais com o trabalhar pras coisas andarem de uma forma um pouco melhor, mostrando arte e cultura pra pessoas que normalmente nao teriam oportunidade de descobrir por elas sos. Fico mais com trabalhar por novas ideias pra formar a cabeca das novas geracoes de forma diferente, mais realista e completa.

Outra coisa que tenho notado aqui na Italia eh o pessoal reclamando e dizendo que vai sair do pais. Estranhamente todo mundo fala, atualmente, da Espanha, como se fosse a terra da salvacao, o pais do futuro. E a Espanha tem crises equivalentes ou piores. O que passa eh que o pessoal nao entende que a crise eh geral, eh um comportamento escapista e bastante individualista querer sair do seu pais, ao inves de tentar melhora-lo, trabalhar por ele, assim que a gente pode criar novos padroes, novas oportunidades, ao inves de torcer pra isso cair do ceu ou idealizar uma "terra prometida" que nao existe.

festa brasileira!

Bastou uma boa festa pra juntar energias boas do festival numa pista de danca. Como eu ia tocar numa pista menor no sabado, nao fiz meu live, e sim uma "noite brasileira". E nem foi anunciado direito, tava so escrito num painel que teria seratta braziliana as 22:30 com DJ Lucio K do Brasil, e logo chegou um grupao e se jogou nas batidas brasileiras. Tocar pra gringos eh um pouco diferente, as vezes coisas com sonoridades bem percussivas e que soam originais pras referencias musicais deles funcionam mais do que classicos. Entao rolaram muitas producoes proprias, sambas novos, antigos, marcatu, maculele, sessao capoeira.. foi bem divertido. Era pra acabar 2 e acabei 3, sob protesto do publico presente. Senti que monopolizei todo mundo do festival com mais de 30, so ficou a garotada la na pista principal, de musica eletronica.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

the monkeys


Aproveitando o clima do festival o qual eu tou participando, um classico que sempre vale a pena rever. 
Mas como estava falando com minha mae esta semana.. Existem dois tipos de macacos. Os que preferem uma vida plana e ficam eternamente la e os que partem pra uma compreensao e interatividade mais esfericas de si mesmos e para com o mundo. Isso eu acredito que os faz macacos um pouco menos involuidos e frustrados.. ;)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

alcohol


Ontem toquei num festival chamado Mondiali Antirazzisti, que tem a proposta de discutir e protestar contra racismo, xenofobia, sexismo e preconceitos afins. Muito legal, principalmente porque parece que nesses festivais todo mundo que eh militante, outsider ou simplesmente esquisito comparece, o que forma uma mistura interessante...

Ma havia uma coisa curiosa: uma classe de "diversao" que eu nao conhecia.. homens num estilo meio hooligan ficavam no refeitorio (onde estava o bar) bebendo cerveja em quantidades industriais a noite inteira e cantando hinos de futebol all night long. And i mean all night loooong, o mesmo refrao. Ignoravam as palestras, shows e djs do festival, pra ficar no refeitorio, daqueles com luz branca, cantando em grupo. Abracando-se ou com as maos pro alto, ficavam cambaleando e cantando sem parar em loop. Engracado nos primeiros 3 minutos, depois fica meio depre. Presenciei uma cena insolita: um deles, enquanto cantava, comecou a vomitar e engasgar, tudo ao mesmo tempo, e ninguem deu a minima, provavelmente eh uma coisa normal nessa pratica.

Eu realmente acho muito vao, bobo, vazio o mundo do alcool. Pode parecer uma contradicao - afinal trabalho principalmente na noite - mas sempre soube separar a diversao pela musica, celebracao e interatividade da diversao pelas drogas. Esse copo ai do lado, claro que eh agua com gelo, o simbolo da entropia para a wikipedia. Sao 20 anos de noite sem beber, e vejo cada vez mais os resultados, porque tenho 36 com uma cara de 35.. rsss. Mas falando serio, eh indiscutivel que acool incha e envelhece, principalmente se levado como um estilo de vida. 

E vejo muito aqui na Europa, ate mais do que no Brasil, a cultura que se orgulha de beber, como se fosse o maior barato. E acaba sendo patetico. Um jogador espanhol de 22 anos, logo depois de ganhar a copa, falou na entrevista em rede nacional somente um "agora vamos ficar bebados!". Celebracao eh praticamente sinonimo de se embriagar. A industria de bebidas venceu. E eu me sinto um alien.

Fiquei feliz que uma pessoa amiga me falou ontem que parou de beber. E tem acontecido isso com amigos entre 30 e 40. Afinal, um dia as pessoas se tocam que tem que se cuidar, porque o corpo vai envelhecendo e perdendo a capacidade de neutralizar as merdas que a gente faz com ele, como se entupir de alcool so porque eh " divertido", bebidas sao "gostosas" ou pra ficar "mais sociavel"(nos melhores casos).. De que adianta malhar, se alimentar bem, gastar com produtos, medicos etc. e sair 3 vezes por semana pra encher a cara?

Ok, ok, esta na nossa natureza atavica se "embriagar". Afinal observamos varios animais na natureza ficando doidoes, fissurados por substancias inebriantes ou viciantes. Afinal, nao sou moralista ou censurador, vide o que escrevi aqui ha uns posts atras sobre o valor de sair do nosso estado natural as vezes. O problema nao eh a droga, mas como voce a administra. O problema eh a fuga, a muleta, o atalho, e principalmente a dependencia psicologica disso (que no meu ver eh pior que a quimica). 

Assim como as pessoas se condicionam a comer industralizados cheios de glutamato monossodico (os salgados) e acidulantes (os doces) e perdem a sensibilidade de apreciar os reais e sutis gostos da natureza, quem bebe muito perde muito a capacidade de lidar com o mundo de uma forma sutil e natural, de se embriagar com a beleza, com o amor, com a danca, a musica, a expressao, o sexo, enfim, com esse mundo que ja eh inebriante. Basta se exercitar a sensibilidade pra isso, e claro que o alcool esta no caminho oposto.
Alem disso, tem os exercicios pra relaxar, desinibir, ter mais atitude, se permitir. Eles deviam ser ensinados desde a escola primaria pras criancas. Mas nunca eh tarde. Todos nos podemos estimular, induzir naturalmente e auto-sugestionar determinadas ondas.

Uma vez me chamaram de "careta" por nao gostar de comportamentos viciosos. E na epoca nem tive disposicao de explicar que esse sentido pra palavra "careta" que eh uma das maiores caretices na minha opiniao. :) Pra mim careta eh quem se prende a tradicoes e padroes... como o de beber, custe o que custar, por exemplo.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

per la fidanzata

Estava rolando pela Austria e os chocolates locais me tomaram de assalto, estupraram minhas narinas e raptaram minhas papilas. Me flagrei derretendo tudo de amargo garganta abaixo e pensando no amor; uma boa formula pra dulcificar a alma e absorver as saudades.

Nesse doce transe, paralelei sobre o equilibrio de opostos: assim como o segredo do chocolate eh o amargo do caroco torrado do cacau com o contraste do balsamo do acucar, a saudade eh fascinante porque eh a arida falta no mesmo lugar que a aconchegante lembranca. Romeu e julieta.

Entao mergulhei em aguas mais profundas e tudo ao redor parecia irreal e real (melhor dizendo, um novo mundo abstrato e nobre). Senti uma forca fluida que me envolvia totalmente e me deixava mais leve, percorrendo meu corpo como endorfina na corrente sanguinea e me causando uma sensacao assustadora: a de confrontar com um mundo ao mesmo tempo familiar e complexamente novo. Como o segredo do chocolate.

Enquanto flutuava, um calafrio desde o coccix ate a nuca me fez espirrar e uma pedrinha branca  saiu da minha boca. Como uma semente flutuante, bem diante do meu rosto comecou a crescer rapidamente e se tornou uma especie de alga cheia de tentaculos, que se enrolaram rapidamente por todo meu corpo. Senti milhares de prazerosas espetadinhas que me fizeram sentir verde. Agora estou clorofilado, pensei, e sou parte da natureza enfim. O frio, calor , medo e conforto ao mesmo tempo me deixavam perplexo e anestesiado. Tudo que podia fazer era relaxar e finalmente me entregar a meus instintos, deixando que tudo aquilo penentrasse sem reservas nas minhas visceras. Fechando os olhos, uma luz laranja-quente quase me ofuscava e eu me lembro de ter pensado: como estou conseguindo respirar normalmente nessa profundidade?

Tudo isso sendo levado pela corrente, suave, constante e segura. De repente percebi que minhas maos estavam todo esse tempo fechadas, e os cristais continuavam crescendo nas minhas palmas.

sábado, 5 de julho de 2008

flickr


Eu tambem flickro. Vou colocando os flyers das festar por la.
abracos a todos.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

quinta-feira, 3 de julho de 2008

tecnologia - a grande esfinge


Sempre fui meio cismado com a tecnologia. Fiz de tudo pra nao aderir ao celular (achava um aparelho superestimado, me sentia perseguido, invadido e nao queria viver radiação eletromagnética na orelha, rs) e nao vejo televisao ha anos, simplesmente porque me recuso a dar muita importancia pro bizarro mundo da mídia e do entretenimento descartável/apelativo. Acho que o mundo seria bem melhor se esses dois aparelhos deixassem de ser o centro de tudo - e infelizmente sao.

Com computador tambem tinha essa resistencia a tecnologia, mas de uma forma diferente. Sempre adorei computador, so tive meu primeiro tardiamente - 1998* ,sempre usei intensivamente desde entao, mas me recusava a aderir a novos softwares, novas versoes.. meio que evitando ser dragado e manipulado pela "industria" que te empurra upgrades o tempo todo.

Mas te digo que comecei ha uns poucos anos a ver que essa postrura me prejudicava. Por exemplo, todo mundo sabia usar um celular "fluentemente", e pra mim tudo alem do basico ou os novos aparelhos eram um grande misterio. Eh como nao falar uma lingua essencial.

Internet: hoje geralmente eu deixo e ligada 24 horas, porque se nao estou baixando musica e filmes (nao adianta, a quantidade de musicas e filmes que eu gostaria de baixar eh INFINITA, ja me conscientizei), estou disponibilizando eles pro mundo. O orkut, por exemplo, voce escolha o quanto vai se expor (Por isso sempre vi com desconfianca quem tem "medo" de orkut). Alem do mais, todo meu trabalho eh centralizado no computador, principalmente as relacoes sociais feitas pela internet e a atualizacao de musicas e noticias relacionadas.

Um parenteses: Nesse momento, tou na Austria, na casa de um novo amigo, o Herbert, gente finissima. Onde nos conhecemos? Atraves do myspace. Meu amigo Ze', que arrumou hospedagem pra mim em barcelona tambem foi por myspace. Todo mundo sabe, ja casei com uma pessoa que conheci no Orkut!

Upgrades: faco sem questionar. As versoes novas sao sempre melhores, com menos bugs, assim como opto por computadores novos, sempre que posso.

Na real, o problema nao eh a tecnologia, e sim como a gente usa. Quanto mais tecnologia melhor, contanto que nao venha em forma de desperdicio. Mas quanto mais tecnologia, mais eh necessario saber usa-la. Ela sempre pode ser uma grande amiga, e evita-la eh o mesmo que temer administra-la. Eh fugir do pau. Administra-la eh essencial pra estarmos sempre em dia, compativeis com o mundo, afinal de contas quem nao se renova, envelhece; quem nao a decifra, eh devorado.



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* - Tardiamente se voce considerar que meu pai trabalhava com informatica desde 1974 e nos anos 80 foi dono de uma empresa de software, tinha dezenas de computadores. Em 87 eu ja sabia programar em basic, dava aulas de DOS, em 89 entrei pra faculdade de informatica, mas nem assim ganhei o meu. Pois bem, em 98 ele faleceu e so entao eu tive meu primeiro PC - o pessoal dele, que 'confisquei' pra mim.

terça-feira, 1 de julho de 2008

ibiza y formentera


farol de la mola, formentera

Antes da Austria resolvi passar em formentera, afinal Valencia é do lado. Nesses 13 anos Ibiza mudou demais - o turismo ficou mais intenso, de gente com menor renda, guiada pela moda, faixa de idade menor e que vem pensando em se acabar nas drogas, e nao em curtir a ilha. Onde esta o pessoal que frequentava ibiza nos aureos tempos ate o comeco dos 90? Em Mikonos, pelo que me disseram. Se Ibiza ja nao me atraia tanto antes, agora entao.... Fui direto pra Formentera, que fica a 25 minutos de catamaran.

Formentera nao mudou quase nada. Continua um lugar rustico, tradicional, tranquilo, o mesmo cheiro e a mesma luz, ambos incomparaveis. Um pouco mais tomado por italianos e alemaes, mas so essa epoca do ano. A unica diferenca marcante (pra mim) eh que nao existem mais as tradicionais mobiletes pra alugar, so vespas pra cima. Aluguei uma bike (afinal, é uma ilha de 82 km quadrados) e fui me aventurar. Pra chegar em la mola levei mais de uma hora, e metade do percurso ladeira acima. Voltei ja de noite, pernas megadoloridas, me perdi um pouco (um brêeeu!), fui atacado por um sapo no queixo, mas foi muito divertido e um otimo programa introspectivo. Agora sao 23:30, vou sair daqui da lan house, tomar um banho e dormir um pouco antes da noitada, que comeca as 3.

Cheguei sem ter nada planejado e sem ter falado com ninguem (soy viajero freestyle..).Por sorte encontrei o dono de um bar onde toquei em 93/94, ele esta com um novo bar bem legal e bem sucedido(patchanka), adorou me ver, ja providenciou lugar pra eu ficar e hj de noite disse que ia chamar mais conhecidos para me ver.

tomates da andaluzia

Ontem mesmo em Valencia estava pensando o quanto os tomates sao gostosos, fora que voce pode encontrar varios tipos.. Ate o tomate cereja eh mais gostosinho. Pois hoje puxei papo com uma valenciana que veio a ibiza (uma das melhores coisas de viagens é isso, puxar papo com o povo o tempo todo!) e ela era de Andaluzia. Por coinscidencia ela comecou a falar da qualidade de vida de la, e da comida que era muito boa, e falou "os tomates de Valencia nao sabem a tomate, os de andaluzia que sao bons"... Taí, entrou pra minha wishlist.

(post escrito ontem)

sábado, 28 de junho de 2008

tocando em valencia

                Palau de les Arts de la Ciudad de las Artes y las Ciencias

Noite gloriosa no Flow, um pub (quase club) em Valencia. Foi muito animador, as pessoas se amarraram no meu live, teve direito a aplauso "em cena aberta", o que e uma das coisas mais gratificantes em apresentacoes. 3:30 da manha, com a casa cheia, acabei a apresentacao e o povo ovacionava. Muita gente veio me parabenizar, e o Sais, meu anfitriao e dono do Flow, ficou de queixo caido, disse que queria ser meu empresario, meio de brincadeira, mas ele ficou realmente entusiasmado em me trazer de novo em breve. (Falou que meu estilo eh o maximal, que o maximal eh o oposto do minimal, eh a mistura, eh o futuro.. "maximal" seria mais ou menos um termo bonito pra "samba do crioulo doido"..rssss )

Mas pra resumir logo, os melhores comentarios da noite, feitos pelo publico: 
- Voce ta pronto pra festivais, imagino isso tranquilamente pra 15 mil pessoas dancando!
- foi a coisa mais original que ouvi nos ultimos anos
:)

algumas fotos aqui (fialmente fiz uma conta no flickr)

tou felizao.. proxima parada: Austria! Linz e Graz, duas cidades perto de Viena.

turistando

Ha 13 anos nao vinha em Valencia. A cidade mudou muito, cresceu bastante, bairros que eram perifericos, como o que eu estou, ja nao sao mais e valorizaram consideravelmente.
Estou praticamente do lado da Cidade das Artes e Ciencias, onde esta o Palacio das Artes, foto acima. Eh uma obra megalomana, monumental, e soube que a cidade ta endividada por mais 20 anos, devido a emprestimos de dois bancos pra realiza-la.
Falando especificamente do Palau de las Arts acima, onde fica a Opera Rainha Sophia, a arquitetura eh impressionante, e muito fincada no modernismo catalao, que se inspirava em formas da natureza. Foi inevitavel comparar com o Palau de la musica catalana, onde fui semana passada. Com quase 100 anos de diferenca, eh como ver a megalomania arquitetonica modernista 100 anos depois, com a mesma exuberancia, mesma pretensao, seguindo uma coerencia arquitetonica (dessa vez eu chamaria de modernismo catalao futurista), sendo igualmente criticada e com a mesma proposta: ser uma casa de espetaculos.
Passei a tarde fazendo muitas fotos da Cidade das artes. Ja tou com muitas, so de Barcelona sao quase 300, porque levei a serio a historia de fazer uma serie chamada "portas de barcelona": como os grafiteiros respeitam os muros da cidade, nas portas eh que estao os grafittis, muitos com teor politico (protesto, ideologias), numa verdadeira colagem em camadas de tempo. Os interessados em ver a "mostra" se manifestem, por favor, que as senhas serao distribuidas antecipadamente ;) 



quarta-feira, 25 de junho de 2008

artistas sonham mais?


    
                                                            "o grande masturbador" de Salvador Dali, 1929
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ser artista eh estar mais moldavel a mudancas?

por que algumas mentes "perdem" a capacidade de aprender e mudar?


Em 1895, apos analisar detalhadamente e interpretar um sonho proprio, Freud descobria que a linguagem dos sonhos pode ser uma via de acesso direto ao nosso inconsciente. A partir dai, recorreu incessantemente ao estudo de expressoes artisticas durante toda sua carreira. Declarava que o artista tinha 'uma sensibilidade intuitiva, o que o fazia acessar mais diretamente o inconsciente do que pessoas nao-artistas, que necessitavam de muito mais tecnicas e metodos para acessa-lo'.

Ou seja: certamente nao existiria psicanalise sem Michelangelo, Da Vinci, Dostoievsky, Shakespeare.. As artes, como os sonhos, sendo expressoes intuitivas do inconsciente, foram e sao um material valioso para a psicanalise.

Como comentei aqui antes, passei por uma experiencia de busca interna, e nela tive uma companhia que, alem de ser mente artistica em potencial, tem um fascinio pela psicanalise (assim como eu), o que me fez refletir: A busca por sonhos lucidos e uma constante em mentes artisticas? Ate que ponto vale buscar caminhos quimicos para conhecer seu inconsciente?

Ai entramos em uma outra questao: Quanto a busca interna, a analise de si mesmo basta para trazer realmente aprendizados?

Tenho uma teoria sobre isso: No meu ver, nosso cerebro esta fortemente condicionado a seguir e repetir padroes, logicamente porque isso faz com que sejamos "estaveis" e ajude na nossa sobrevivencia. Para que haja um verdadeiro aprendizado e mudanca de uma rotina cerebral ou habito, o cerebro deve ser levado a sair de sua rotina. A abrir um espaco para "novas programacoes". Por isso aprendemos mais e temos mais poder de mudanca em estados nao-normais, onde o cerebro nao esta funcionando rotineiramente, como em paixoes, depressoes, estados de psicodelia o ate de choque (vide os traumas, sao "aprendizados" involuntarios, que mudam de forma marcante rotinas cerebrais).

Por isso a importância de manter a flexibilidade do cérebro. Na minha opinião, quem não faz esse exercício invariavelmente vai atrofiando esse "músculo" da mudança, da evolução cerebral, de sair dessa zona de conforto.

Claro que existem formas de auto-induzir nosso cerebro, nos abrindo a novos insights e mudancas de padroes, mas isso exige treinamento, um longo treinamento de auto-sugestao (o que nao deixa de ser uma mudança de rotina tambem).
Por isso acho essa busca paralela muito produtiva: ao mesmo tempo que tentamos conhecer mais de nosso inconsciente por analise de sonhos, de nossa propria arte, pela hipnose ou experiencias enteogenas, podemos tambem nos treinar para mudar nosso padrao cerebral para acostumar nosso cérebro a sempre absorver novos aprendizados e mudancas de rotina, e assim aumentarmos pouco a pouco nosso poder de mudanca. Como fazer isso? De tempos em tempos variando hábitos, reformulando conceitos, se lançando a novos desafios, se propondo a sair da zona de conforto.


tocando em barcelona


O dia de San Juan (24) eh um evento muy, muy tradicional, que marca o comeco de verao pelo menos aqui na catalunia. Eh tao forte a data que todo mundo se joga nas pantufas de jaca; tanto que eh a unica noite comparada com reveillon: se pode fazer festa e musica sem limite de horario. Mas eu ainda nao sabia disso. E como minha amiga e anfitria Mar ia fazer uma reuniao com amigos dia 23 (segunda) que comecaria as 21h e que teria uma roda de choro, me ofereci pra tocar antes e depois do chorinho. Por supuesto que uma reuniao light acabou virando uma festa e so consegui parar quase as 6 da manha! Na ultima hora foi so audicao, todo mundo deitado apreciando vinicius, tom, miucha, jao gilberto, sarah vaughan, ramsey lewis e miles davis, vendo o dia nascer.

Justamente no dia seguinte ia fazer meu live - um dos piores dias do ano, pois todo mundo estava quebrado, ainda mais depois do fim de semana no Sonar. o Brazelona Sessions teve metade da sua lotacao habitual, tambem porque o evento nao teve cartaz, divulgacao e sequer uma informacao na porta, nem o pessoal sabia que atracoes teria, mas acabei fazendo um set divertido, dividindo com a Djiiva, uma DJ brasileira que toca black grooves e musica brasileira. Fora por amigos estarem la dando um apoio moral, me amarrei tambem porque gente que eu admiro profissionalmente como o DJ Nickodemus viu o meu live. Nao serviu tanto como termometro ou referencia por ser uma noite muito atipica, acho que vou comecar a sentir mesmo a reacao das pessoas sexta, em valencia, pois sera uma festa bem maior. 

turistando

Depois da minha experiencia extra-sensorial-emotiva-telepatica no Palau de musica catalana, hoje fui ao museu Miro. Realmente as pessoas deveriam ganhar uma dose de LSD na entrada. As obras do Mimi sao de uma psicodelia primitiva enorme, como raios x psicanaliticos de sua mente (falo mais sobre arte X inconsciente num proximo post). Gostei mais das esculturas dele, mas num plano geral, sem querer comparar mas ja comparando, prefiro uma psicodelia mais trabalhada, como a de Dali. Mas valeu muito a pena, ate porque fica num bairro lindissimo, onde fiquei viajando depois por horas. Afinal, tinha entrado na onda psicodelica pra tentar compreender o Miro, e lhes confidencio que viajei muito mais na vegetacao dos parques ao redor do que no Miro em si...

sábado, 21 de junho de 2008

sonar 21 junio (continuacao)

M.I.A., uma forte presenca no festival que perdeu as botas em algum lugar longe daqui.


Se os organizadores reclamaram que na sexta deu 60% da lotacao, no sabado deve ter dado 40%. Talvez pela pouca forca do line up, talvez pelo preco de 52 euros. Mas ainda sim era bastante gente.

Cheguei as 23:30 e ainda peguei o pedaco do show do Yazoo... sim, aquele grupo dos 80 que canta situation. Chato demais. E o line up da maior pista, a club (so pra ter uma ideia, um galpao de uns 100 metros quadrados, com nada menos que 10 teloes) deu varias mancadas pelo resto da noite, como Rings of Saturn (US), que em pleno horario de pico (3 a.m.) parou a pista com seu som ambiente super-viajandao com projecoes de fotos do espaco. Logo depois o ingles Clark fez um "live" de techno  com duas MPCs, mas o resultado final ficou pior do que usar dois cds players, e nao agradou o publico. As 5 da manha o top DJ espanhol Oscar Mulero teve que ressucitar a pista com um techno detroit caretao (no sentido tradicional). Os fritos gostaram, mas eh inevitavel a sensacao de que o techno, assim como o house e o psy (que nao rolou no sonar, pois eh considerado musica eletronica de adolescente por aqui) nao mudaram nada nos ultimos 10 anos.

Falando em idade, observei melhor e vi que a faixa etaria mais forte do Sonar foi entre 25 e 35 anos. Isso deve abaixar ano que vem, ja que o festival esta a cada ano mais pop.

miss kittin apenas ronronando

Todo mundo so falava na francesa, e quando estava pra comecar so se via um rio de gente indo pro sonar pub ( a segunda maior pista, esta ao ar livre. As outras foram park e lab), deixando as outras sensivelmente desfalcadas. O anunciado "live" da moca se resumia a ela mixando as bases de suas proprias musicas (techno e eletro bem produzidos, mas com nada de surpreendente) e com um microfone na mao cantando suas letras pop, como "kittin is high", atras dos Cd players. Deu uma sensacao de enganacao, e deu saudade da heroica Peaches, aquela sim sabe segurar um show sozinha sem deixar a peteca cair.

M.I.A. miou.

Enquanto isso Buraka som sistema fez DJ set e agradou, levou a pista de umas 50 pessoas para umas 500, no final do set. Depois de aprender mais passos de danca tipicos deles, pra minha surpresa fui me apresentar pro Lil' John dizendo que eu era o "Lucio do Brasil" e ele falou "Lucio Kappa??" rsss... Trocamos CDs e combinamos outras coisas. A M.I.A., que se apresentaria depois, faltou, e o curitibano Bonde do Role a substituiu, sendo os unicos representantes brasileiros do festival, em uma apresentacao constrangedora. Eles tinham que fazer eh o "melo da cara de pau" de tentar ganhar dinheiro gigolozando o estereotipo de "brasileiro eh so putaria". Um gringo do meu lado perguntou sarcasticamente, enquanto dois deles simulavam uma posicao sexual no palco "no Brasil todo mundo eh assim?" e eu respondi no meu portunhol:"si, todo el mundo, toda la hora!!" rsss... As bases do BDR sao simplorias, sempre sampleando riffs manjados (e datados) de pop e rock + batidas do funk carioca, como o Edu K ja faz ha muito tempo. Os 4 integrantes gritavam (e pra piorar, as vozes estavam 5 vezes mais altas que as bases, ate parecia que o operador de mesa queria boicotar a apresentacao) letras sexuais ultra-apelativas, sem o menor conteudo (nem sequer ha duplo sentido!) ou originalidade. Me fez ter saudade de quando eu tocava com o Funk Fuckers, isso sim!

e a mistura ta chegando...

Foi surpreendente o festejado Girl Talk nao ter sido escalado para o festival, afinal atualmente ele realmente eh um dos expoentes maximos em termos de discotecagem, apesar de afirmar mil vezes que "nao eh DJ". Mas o mash up nao fez feio: a maior surpresa da noite foi o nova-iorquino A-Trak que aos poucos conquistou o publico e promoveu uma catarse coletiva. Primeiro porque ele faz suas proprias versoes, seus bootlegs de musicas club/dance, surpreendendo a todos (viva a liberdade digital, nada disso seria possivel usando vinis). Segundo porque ele tem uma tecnica perfeita misturando efeitos digitais (muitos e bem usados, sem cansar) e turntabilism,  tudo com serato (alias, so vi 2 djs no festival usando vinil), terceiro porque ele promove a mistura, um set que varia de estilo e bpm, contando uma historia cheia de referencias de musica pop, hip hop e club music. O futuro ta nas misturas, so falta os curadores do Sonar se ligarem nisso pra que a proxima edicao seja ainda mais interessante.