sábado, 25 de outubro de 2008
DJ - uma profissao com cada vez mais responsabilidade..
As vezes encontro uns colegas de profissão que reclamam da inflação de DJs de hoje em dia. Dizem que em cada esquina tem um DJ, que filho de famoso ou modelo nao sabe o que ser e "vira" DJ, que o publico compra charlatões que tem um bom marketing etc. E eu sempre chamo atenção pro lado bom disso. Digo que com a quantidade de "paraquedistas" na area, finalmente o publico vai aprendendo a diferenciar.. Digo que quem é ruim, pode enganar alguns por um tempo, mas nao se sustenta. Sempre me alivia ver que DJs que nao gostam realmente de musica acabam nao se sustentando. Mas vim falar de outra historia, pra exemplificar a importancia de ser DJ hoje em dia:
Semana passada fui no meu banco, conhecer enfim o gerente (que está há anos lá), que tem cerca de 45 anos. No meio do papo, eu comentei que viajava muito e ele perguntou o que eu fazia, e eu disse que era DJ.
Entao ele falou “Po, então me diz uma coisa.. Essa semana mesmo estava conversando com um amigo meu, e estavamos nos perguntando por que até os anos 80 as musicas eram boas, tinham uma certa qualidade, e hoje em dia é tudo porcaria, descartável. É porque a geração de hoje é diferente, e eles gostam mesmo de lixo?”
Tentei ser resumido. Mas, como profissional da musica, tinha que dar uma resposta que esclarecesse bem. Então disse mais ou menos assim: “Não, eles nao gostam de lixo, eles são levados a consumir. Mas isso acontece por duas coisas: primeiro, nos anos 80 o marketing se sobrepos à música, à arte, portanto a prioridade passou a ser vender, e não oferecer música de qualidade. Isso forma um ciclo destrutivo: As gravadoras viraram indústria, e pararam de arriscar em coisas originais: só lançam o que elas tem certeza de que vai vender. Como eles são marketeiros, publicitarios, eles nao entendem de música. Por isso que esse esquema tá todo desmoronando agora. O outro motivo é que temos mais de 15 anos de jabá instaurado no Brasil. Ou seja: tudo que o publico ouve em radio e tv teve grana por fora pra ser veiculado. Isso reforça ainda mais o ciclo do primeiro motivo, entende?”
Ele pareceu entender o sentido da coisa. Ná próxima vou tentar ser mais resumido.. rsss.. é dificil, num assunto como esse.
O consumidor nem se toca desse processo de manipulação, muita gente ainda acredita que as radios e TVs selecionam o que há de mais interessante para mostrar ao publico, e não é verdade. As pessoas também não sabem que é uma máfia, envolvida com política até o pescoço, essa coisa de concessão de transissão de radio e TV.
E é por isso que o DJ será uma figura cada vez mais importante, porque só o DJ pode, dando a volta nesse sistema pobre e destrutivo que vê a musica como caça níqueis, pesquisar, selecionar o que ele, e o amor à musica dele, acham que é interessante, adequado, valoroso e servir de ponte entre a musica e o público. O problema tambem é os DJs terem essa consciência e/ ou conseguirem a liberdade de fazer um trabalho menos comercial. A maioria deles precisa trabalhar pra esse sistema, e acaba colaborando com o ciclo – de padronização cultural – ao inves de possibilitar a diversidade e liberdade musical.
veja tambem um texto meu que sobre o que é um bom DJ aqui.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
corpo, alma
Nossa cultura ve algumas coisas de forma muito curiosa. Sempre questionei a nossa relação psicológica com o nosso corpo. A gente constuma pensar no corpo como um “outro”, como algo meio independente de nós, como se ele não fosse nós mesmos, e sim um parceiro com quem temos uma relação de permuta: temos que tratar bem dele pra ele dar o que queremos. Em casos mais graves (e infelizmente mais comuns) o tratamos como escravos: damos o mínimo do que realmente importa a ele e exigimos que ele aparente o melhor possivel, porque não estamos realmente preocupados com ele, e sim com a imagem dele nos favorecendo.
Talvez haja uma supervalorização da “alma”, que é uma certa ‘entidade’ que nunca ninguem provou realmente que existe e a vemos independente do corpo. E na verdade o corpo vem primeiro, ele sim possibilita a alma estar sadia. Se nos preocupamos com o preparo e a sanidade do nosso cérebro, porque as vezes somos tão relapsos com nosso corpo? Muitas vezes ainda o sobrecarregamos: colocamos quimicas pra fazer ele agir contra sua vontade, contra seu ritmo e reações naturais, e literalmente nos agredimos sem a menor consciência. As pessoas tinham que ter o habito de amar mais seus corpos. Tirar um tempo do dia todo dia para senti-lo, observa-lo, acaricia-lo, ama-lo.
O corpo não é uma escultura, não é uma imagem pra atrair e impressionar. Ele é nosso veradeiro “templo”, ele é sagrado, ele é inerente e indispensável a nossa alma, ele nos protege, ele nos dá liberdade, nos apóia, nos dá sensações, quarda nossas recordações e histórias de vida. Recordo uma história em que a Fernanda Montenegro reagiu a uma critica sutil as suas rugas dizendo “tá louca que eu vou tirar elas? Você não sabe quanto tempo de vivencia eu precisei pra adquiri-las!”.
Nosso corpo nos dá dimensão, volume, nos liga a terra, nos faz sentir que existimos. Acho que pode ser destrutivo pensar no corpo como um recipente que abandonamos pra voar para um plano melhor, ou supervalorizar a “alma” (o que quer que ela seja) reduzindo o corpo a um veículo provisório. Talvez esse seja um dos motivos que nos faz tão relapsos com nosso corpo, uma herança de séculos de crenças que o diminuem. Além do mais, se voltar pro próprio corpo é um exercicio de auto-conhecimento. Aceita-lo em sua diversidade, sem impor a ele que siga um padrão pré-estipulado-por-sabe-se-lá-quem é preservá-lo de uma tirania, se recusando a banaliza-lo. É principalmente se conectar com sua verdadeira essência, algo raro nos dias de hoje.
Sem o corpo, não há alma. Nossa energia pode até transmutar em outras coisas, mas nossa consciência, desta forma que temos hoje, só vai existir mesmo nesse nosso injustiçado corpo. Acho que o ser humano só ganharia supervalorizando menos a “alma” e valorizando mais seu querido corpo.
domingo, 19 de outubro de 2008
VAMPIROS DE IMAGENS
As vezes acho que a festejada "cultura do individualismo e da liberdade" é uma desculpa pra ainda mais alienação: é como houvesse um plano para, através da 'maquina do sistema', primeiro se tirar a cultura, a intuição e até a liberdade das pessoas e faze-las de ovelhas que acreditam que tem livre arbítrio, qualidade de vida e um rico leque de opções de vida. Então, aproveitando que elas estão sem esses privilégios, depois a fazem acreditar que os valores estão baseados em consumo, e além de venderem supérfluos insalubres, ainda vendem "antídotos", num processo parasitário. Diante desse quadro, sobram carcaças vazias que vivem pra trabalhar (e nao trabalham pra viver, o que seria o ideal) e tudo entra em um ciclo vicioso: diante dessa pressão pela produção a todo custo, não têm sequer tempo para buscar alternativas ao pré-moldado que lhes é empurrado. Frustradas, as pessoas tentam preencher esse vazio de forma errada, paliativa. E adivinha quem tambem dá esse paliativo de forma fácil e tambem pré-moldada? Não precisa ser visionário pra sacar que é a mídia. Tanto a industria de "entretenimento" - a espetacularizacão de tragédias, de produção de "ícones-ilusões-de-ótica" - quanto a midia que está mais em "plano real" - a publicidade. O negócio é criar uma imagem agregada a um status social e vende-la (assim como é feito com as mercadorias de consumo) como indispensável.
Ok, há séculos a historia da humanidade tem se baseado em imagem. Já na idade média a aristocracia vivia de uma imagem, uma máscara, e era seguida pela burguesia, que tambem tinha como um dos valores prioritários cultuar e perseguir essa imagem aristocrática e ostentar, glamourizar e mascarar sua vida. Assim se pode ver na obra de vários artistas que satirizavam a hipocrisia social como Moliere (As Eruditas), Balzac (especialmente "Comédia Humana"), Oscar Wilde (Retrato de Dorian Grey). Como evoluimos, obviamente nossas doenças evoluem junto. Hoje a mídia não só vende o culto de status ou objetos, mas pior: cria e vende, com toda a parafernalia tecnologica de que dispõe, a imagem desses objetos, que obviamente não condizem com a realidade. Tudo é espetacularizado, glamourizado, vendido como "modelo". Desde a rotina de "big brothers" até a vida de jogadores de futebol, de infelizes assassinos a atrizes e apresentadoras de televisão cujo unico curriculo é terem dado pra homens famosos..
Assim se faz uma relação de fetichismo popular por imagens idealizadas, junto com uma frustração, a de nunca alcançar estas imagens. É uma relação nada sadia: ao mesmo tempo há a admiração / a inveja; a super-valorização do outro / a desvalorizacao do self. Isso dificulta ainda mais as pessoas de entrarem em contato com sua grande verdade - que sempre está dentro delas mesmas. Buscam, desesperadas, representantes de dimensões de humanidade que o homem comum já não reconhece - o que dirá encontra - em si mesmo.
Predomina a imagem sobre a personalidade, a aparência sobre a "essência", e isso é uma das maiores características da cultura urbana contemporânea. Como o mercado é totalmente mancomunado com os meios de comunicação de massa, a mídia produz os sujeitos de que o mercado necessita, prontos para responder a seus apelos de consumo, numa simbiose de dois monstros parasitas. Por outro lado, o consumidor vive para valores fúteis que o fizeram crer como essenciais, e se torna tambem um vampiro, pois por mais que consuma o "remédio" dado, sempre estará sedento, sem saber exatamente de quê. Só que ele é parasita de si mesmo, ou melhor, ele é um cúmplice do parasitismo sem perceber, pois se permite parasitar.
Até a espiritualização virou indústria, aliás, uma das que mais arrecada dinheiro. Pois é óbvio que as pessoas, diante desse vazio, percebem que mesmo consumindo, a aflição do esvaziamento de essência e sentido continua. E vão buscar um lenitivo mais forte, a suposta "espiritualidade" que supostamente deveria se basear na riqueza da troca com o mundo e a busca de auto-conhecimento e hoje vem tambem em forma de mercadoria, pré moldada, de fácil consumo. Claro que é preciso ter "fé" em qualquer coisa que pareça uma bóia de salvação para desconcentrarmos desta falta de sentido, esse empobrecimento e massificação dos nossos valores essenciais.
O resultado é, como tudo em uma sociedade imediatista, um apodrecimento, um esgotamento das bases, e um inevitável desmoronamento da estrutura atual, que já está em plena decadência. Talvez se não fosse por esse imediatismo, todos iriam enxergar que todo mundo acaba perdendo com um empobrecimento geral de uma sociedade que só consegue "enriquecer" às custas destas vidas expropriadas, e baseadas em ilusões. É ilusão pra te vender coisas, é ilusão pra te fazer alimentar mal, é ilusão pra te vender remédios e soluções milagrosas pra todo lado. Há parasitismo em mais lugares do que se parece, o que deixa todos debilitados. E é dificil enxergar esse empobrecimento justamente porque faz parte do jogo o sistema fechar os olhos das pessoas para isso, fazendo-as acreditar que, abarrotadas de mercadorias, gozam de uma riqueza excepcional, o que as deixa ainda mais perplexas.
Saídas práticas e positivas? Aprender a identificar os "parasitas", compreender toda essa "máquina descontrolada" e passar adiante a compreensão, não pregando, mas informando, proporcionando pensamento, discussão, reflexão. Talvez sua missão no mundo inclua isso, quem sabe? ;)
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Dedicado à minha amada e iluminada Aleta.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
machismo vs feminismo
A gente nao se dá conta, mas há uma guerra dos sexos, de pano de fundo, na nossa cultura. E sempre haverá, enquanto a maior parte nao enxergar e desvendar as desigualdades envolvendo os gêneros. De um lado, uma sociedade que ainda tem uma herança machista, que oprime e pressiona a mulher de uma forma principalmente tácita. Do outro, mulheres que não se conformam com essa desigualdade e ficam num dificil lugar onde se dedicam a chamar atenção para os desequilibrios entre gêneros e machismo do mundo. "Dificil", porque é um ingrato posicionamento ideológico: se por um lado se tem que puxar a balanca pro centro, se faz uma força oposta muito grande. Por isso as pessoas confundem esse conceito do feminismo, que nao é o contrario do machismo, e sim uma tentativa de proteção contra o machismo. E tambem por isso que é tão comum defensoras da igualdade feminina cometerem o feminazismo, o radicalismo geralmente contendo rancor e raiva, que é igualmente despropositado e destrutivo. Porque só alimenta essa "guerra de sexos". E lutar pela paz é um contrasenso, e um pecado recorrente de muitos militantes: a linha que divide militância e radicalismo é muito tênue.
Vi um filme em Barcelona, numa exposicao dedicada a Agência Magnum, chamado Aka Ana, filmado em 2006 em Tóquio, do diretor francês Antoine D'Agata. O filme mostra depoimentos, dos mais profundos, de prostitutas japonesas, e uma fotografia que te leva ao mundo mais íntimo delas. Saí da sala de projeção estarrecido. Foi uma experiência muito forte, porque nunca vi um filme que falasse de uma forma tão crua e profunda da natureza feminina, da fragilidade que envolve a sua condição, da questão de lidar com a sexualização do mundo regido pela visão masculina, das 'leis' que a vida impõe à mulher, ainda mais naquele contexto. Isso tudo se intensificou ainda mais porque estava acompanhado de uma amiga que ja teve uma experiencia de estupro. Realmente sai branco, com olhar perdido e a consciência de que provavelmente nenhum homem vai um dia saber exatamente o que é, realmente, a condição feminina, os conflitos, a responsabilidade de ser tanta coisa que lhe é projetada, a pressão da sociedade em tantos aspectos, a subjetividade e sobretudo o milagre da maternidade. E isso me faz compreender mais as mulheres que piram com isso, e as vezes passam dos limites. Nao é pra menos.
E por este equilibrio homem-mulher ser uma condição tao delicada, e por serem necessários tanta evolução e altruismo da raça humana para lidar de forma equilibrada a respeito, não sou otimista. Como o mundo está cada vez mais individualista, as pessoas cada vez mais fechadas e incapazes de se relacionar, compreender e tolerar as diferenças, do jeito que as coisas estão cada vez mais imediatistas e capitalistas (em uma sociedade onde todos querem comprar as soluções, e nao trabalhar por elas) eu cada vez mais acredito em uma antiga profecia minha:
Como sou fã de ficção cientifica e de previsões fantásticas, acho que nesse seculo nós ainda vamos presenciar um conflito social (e sexual) gerado pela tecnologia. Se imaginarmos que não ha limites tecnologicos, um dia desses os japoneses vao lancar uma sofisticada mulher artificial para fins sexuais (como ha em blade runner, meu filme preferido). E eu acho que os valores dos centros urbanos do mundo tao caminhando pra um lado tão vazio e consumista que isso vai ter um mercado grande entre infelizes homens solitários, acomodados, imediatistas, sem vivencia ou simplesmente machistas e misoginos, em um mundo cada vez mais regido por imagem e menos por valores essenciais. E certamente vai gerar uma (in)revolução de costumes. Se pararmos pra imaginar as possibilidades, nao é nada animador. Mais um exemplo de que a tecnologia, se usada somente pra suprir o comodismo e imediatismo humano, pode ser uma enorme inimiga.
Será que o ser humano vai acordar a tempo para resgatar (Desde ja) a vida de verdade? Resgatar o valor da complexidade tão bela das relações, que são essenciais pra nossa evolução como humanos?
Veremos nas proximas décadas, mas correndo o risco de parecer feminista (ou machista, pra alguns pontos de vista), sinceramente eu acredito que a mulher tem até mais poder pra mudar esse destino - espalhando sua compreensão e sensibilidade, se negando a ser o que o mundo machista espera dela para ser ela mesma e botando pra fora o seu poder e sua inteligência emocional, que são tao reprimidos, há tantos seculos, que precisam de uma sacudida pra acordar realmente.
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
london
Passagem rapida por Londres pra encontrar meu publisher, que lancou meu primeiro CD (Dr.K - SwingSambaLounge), que fiz ha 5 anos. Colocamos papos em dia, atualizamos contratos e fizemos planos pra tour do ano que vem. Fiz uma sessao de fotos pra imprensa pro Dr.K no Tate museum. Adorei a 'equipe' da Curve Music (Lizi, brasileira, e o Greg ruivao), e o fotografo brasileiro Arthur. Deu tempo de passar uma tarde passeando pelo Soho vendo lojas de discos e camisetas bacanas. Terca conheci finalmente o Guanabara, o famoso Club Brasileiro. Um clima bom, cheio de brasileiros e, claro, ingleses que querem encontrar gente que tem dendê e samba no pé. Hehe.
Londres eh a capital mundial do "sorry". Incontaveis os sorrys que escutei nesses 2 dias. Concluo que seja, por isso, o lugar mais civilizado do mundo.
Momentos mais marcantes:
- Ver pela primeira vez o meu primeiro cd em formato fisico, e com selo prateado holografico e tudo. Ele foi prensado na Ucrania e em breve sera na Inglaterra.
- Ser clicado por uma rolleiflex 1948
- Ver o trabalho de artistas brasileiros cobrindo as paredes externas do Tate museum
- Receber o carinho e respeito do pessoal da Curve Music. Sou o unico DJ/Produtor do label, e recebi elogios do album do tipo "classico desde que nasceu", "parece uma viagem de aviao, comeca ja decolando, te deixa descontraido e acaba chapante", "quase abriu um buraco no cd, porque nao saia do meu cd player", "me faz dancar em qualquer lugar sempre que eu o ouco".
sábado, 2 de agosto de 2008
bristol 2
Bristol parece uma Londres mais relaxada, tranquila, pessoal muito amigavel, tou curtindo bastante. Ontem toquei na Festa Brazilian Beatz (foto acima), 400 pessoas amarradonas pra ouvir so musica brasileira a noite toda, e a maior parte de ingleses, o que eu prefiro, pois voce pode entrar mais num conceito, mostrar coisas novas que eles se amarram. Fiz meu live e toquei muitas coisas de musica brasileira com influencia de ritmos eletronicos. Claro que o som do club era uma maravilha, os subgraves batendo bonito e fazendo todo mundo feliz.
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
bristol
Cheguei na terra do drum'n'bass e do reggae. Cidade do Banksy! Bristol me parece bem legal. Olhem a estacao ferroviaria, que graca.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
conto infantil
Minha filha uma vez me confessou que morre de medo da professora perguntar algo que ela nao saiba responder. Disse que quando isso acontece, eh "uma das piores sensacoes da vida dela", e ela fica sem acao, os olhos enchem de lagrimas. Expliquei que ela tem direito de errar, que ninguem nasce sabendo, que nao eh vergonha alguma nao saber de algo. Ate apelei pro argumento de que ela eh crianca, que crianca nao precisa se preocupar com nada, isso de levar tudo muito a serio eh coisa de adulto. Claro que nao adiantou, ela alegou que "eh dificil mudar, certas coisas nunca mudam"
Entao fiz um continho infantil pra ela.. com muito amor. Transcrevo aqui pra exprimir minhas saudades.
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Era uma vez duas irmãs gêmeas: Lelê e Lili. Elas eram iguais em tudo, menos em uma coisa: A Lelê levava susto com tudo, e a Lili nunca se assustava. Ninguém sabia porque que as irmãs eram tão diferentes nisso. Quando alguem dava susto na Lili, ela ria, e não tinha medo. Já a Lelê ficava com muito medo de levar qualquer susto, o que deixava ela mais nervosa ainda. Qualquer relampago, bombinha de são joão, porta batendo ou até sombra a assustava, e toda hora tinha um novo susto, por isso Lelê chorava todo dia, dormia mal, e passava o dia cansada. Tambem nao queria fazer coisas diferentes, porque tinha medo de coisas novas: so queria ver televisao, porque quando assistia programas e desenhos era a unica hora que ela se esquecia do medo dos sustos. Na hora de dormir, Lelê nao deixava a irmã apagar a luz, porque no escuro, já que ela nao podia enxergar, tinha ainda mais medo de levar sustos. E Lili não entendia o motivo da irmã ser tao ansiosa. Muitas vezes Lili ate se divertia assustando Lelê, e achava que dando mais sustos um dia ela se acostumaria, mas na verdade Lili nao sabia que pra Lelê era MUITO horrivel levar susto, era uma das piores sensações. Um dia ela notou que a Lelê estava cada vez mais seria, triste e nunca se divertia, e ficou preocupada com sua querida irmã. Finalmente Lili se colocou no lugar de Lelê e entendeu como ela via e sentia as coisas de uma forma assustadora. Assim, passou a ajuda-la, não dando mais sustos, para a irmã ficar mais calma. Mas Lelê continuava assustada por tudo. E não adiantava dizer para ela que não tem motivo pra levar susto, porque Lelê ja sentia susto antes mesmo de pensar.
Uma vez os seus pais sairam de noite e elas precisaram ficar sozinhas em casa. Lelê ficou apavorada, e Lili dizia, calmamente, que não tinha motivo para ter medo. Lelê dizia que podia aparecer um fantasma na casa, mas Lili dizia: não existe fantasma, e mesmo se existise, eu faria amizade com ele! Entao elas foram brincar, mas Lelê sempre com medo. Quando estavam brincando de boneca, um vento fez a cortina da janela balancar, Lelê viu a sombra da cortina e levou um grande susto. Quis sair correndo e sua irmã falou: "olha, não foi nada, foi so o vento, ta tudo bem" e trazia Lelê de volta para o quarto pela mao. Lelê ficava toda hora olhando a janela, com medo, e de repente a irmã teve uma ideia para ajuda-la: Falou: "Lelê, ja sei porque você leva tanto susto. E so porque você tem MEDO de levar susto!" Lelê respondeu "Como assim? Não entendi" E a irmã explicou melhor "Se você não tiver medo, ai nao toma susto! Vou te mostrar: Deita aqui e fecha os olhos que eu vou tentar te dar um susto." Lelê demorou muito pra fechar os olhos, porque tinha medo ate do susto dado pela propria irmã, mesmo ela avisando que ia dá-lo! Depois, acabou deixando, e Lili fazia "BUU!" e Lelê pulava de susto, mas depois ela comecou a relaxar, e depois de umas dez vezes ela viu que não tinha motivo pra ter medo e levar susto. Então quando Lili fazia "BUU!" ela comecou a rir. E depois de vinte vezes, ela ja achava a palavra "BUU!" tao boba que ria mais ainda, porque não achava mais assustador, na verdade "BUU!" era ate uma palavra engraçada, e não tinha motivo pra ter medo dela! Passou a achar a palavra "BUU!" a mais engraçada do mundo.
As irmãs cresceram, e quando ja eram adultas uma vez Leticia falou pra Lisbela (eram seus verdadeiros nomes): "Irmã, nunca te falei isso, mas aquele dia em que você ficou me ensinando a não ter susto foi um dos mais importantes da minha infancia. Depois daquele dia passei a ver as coisas de forma diferente. Ao inves de ter medo do susto, eu tinha é coragem, e quando eu cresci mais eu entendi que é igual com todos os problemas da vida: Eles aparecem toda hora, e se você tem medo deles, eles são horriveis e tiram seu sono. Mas se você sempre vai em frente sem medo dos problemas, quando eles aparecem você sofre menos, e sabe lidar com eles de uma forma muito mais calma. Nunca te agradeci por isso, e quero dizer o quanto foi importante pra mim, e te agradecer agora". E deu um abraco forte na irmã. Entao, abracadas, dessa vez foi Lili que chorou. Não de susto, mas de felicidade.
terça-feira, 29 de julho de 2008
idiossentropias
entropias - eh o caos, a desordem. Porque eh assim que eu escrevo mesmo. Se eu fosse bom, ja teria partido pra coisas mais profissionais.
Mas como eh um blogue informal, sem compromisso de ser muito politicamente correto, e so pros queridos amigos mais intimos (e nerds), tudo bem.. Se eu escrevo umas linhas mal tracadas ta tudo em casa. Eh so comentar, argumentar, sugerir. Mais deixem o nome no comentario se nao sai "anonimo".. e dai nao rola uma troca, que eh o sentido da coisa mesmo.
abs
um passo a frente.. e vc nao esta mais no mesmo lugar
Italia eh um pais unico, foi muito bom vir pra ca pra quebrar alguns preconceitos meus, inclusive. Ate entendi mais os preconeceitos dentro da propria italia, onde ha rivalidades entre as regioes. Hoje ganhei um cd de uma banda italiana chamada PARTO DELLE NUVOLE PESANTI, que tem o som baseado na musica tradicional do sul da Italia, como a tarantella. (Aqui da pra ouvir uma musica deles, num video satirizando o presidente italiano, que consegue ser mais patetico que o bush). A tendencia mundial eh que grupos valorizem cada vez mais suas raizes, tenho dito isso ha um tempo e cada vez mais acontecendo. Agora estou louco pra conhecer a Sicilia.
Percebo a cada dia que meu caminho eh buscar a essencia das raizes. Que a melhor forma de entender e lidar com a vida eh se livrar o maximo da futilidade de desejos glamourosos (que se analisados, so visam um status futil) e se aproximar da simplicidade das pessoas de 'verdade'(pra mim a maior parte delas certamente nao esta na minoria que eh muito privilegiada financeiramente) e dos ritmos, cores e lugares 'vira-latas', e eh por isso que gosto cada vez mais do Brasil.
Como a a troca, a vivencia, a interacao sao a coisas mais prioritarias pra mim, eu tendo a acreditar cada vez mais que o grande mal do mundo atual eh que ele eh regido por pessoas sem vivencia o suficiente, no sentido de interagir, trocar, se relacionar mesmo com os outros. Esta tomando o poder, a partir de agora, toda uma geracao que cresceu fechada nos seus apartamentos, seus carros e seus escritorios, e confesso que isso me preocupa..
quarta-feira, 23 de julho de 2008
u-hus
Sempre tive dificuldade de entender quem acha a vida chata, "dura" ou sem opções.
Pra mim a vida é uma sucessão de descobertas. A sensação de que, mesmo que eu viva 101 anos, não terei tempo pra conhecer, aprender, ver e curtir tudo que quero é uma das minhas maiores frustrações. Talvez a única realmente..
Estou sempre descobrindo estímulos... E, claro, sempre procurando formas de descobrir mais. Acho que assim se pode ter uma vida excitante sempre, afinal, o que não faltam são estímulos nesse mundão. Everywhere. Os problemas, então.. são os estímulos mais desafiadores! Não tenho medo deles.
E olha que eu podia reclamar, porque alem de ter como principal fonte de renda uma sub-profissão, é também uma sub-profissão dentro de um meio artístico.. Posso não ganhar dinheiro, mas me divirto um pouco! ;) Pelo menos é uma sub-profissão com uma ideologia clara. Pra mim a ideologia é fundamental, é o diferencial de ser um bom profissional.
Me ocorreu agora: viver é como discotecar. É uma função coletiva, social, mas em primeiro lugar você tem que tocar pra si mesmo, afinal se não tiver prazer naquilo, não vai passar esse prazer pras pessoas.
Se você tem um repertório pequeno, tudo vira rotina. Se você tem um repertório maior e rico, pode escolher exatamente o estimulo adequado pra cada momento.. se tiver o feeling, claro. Por isso é a junção do esforço de sempre conhecer novos estímulos (a chamada pesquisa de repertório e forma de mostrá-lo, que nunca acaba) com sempre sentir a atmosfera, como as coisas vão fluindo. E dançar conforme a musica também, claro. (O que seria de nos se tivéssemos os quadris rígidos? Vejo claramente que é terrível ser rígido, levar certas coisas muito a serio ou só se satisfazer se algo acontece naquele padrão pré-determinado pela nossa cabeça.)
Um DJ sabe também que uma pista não deve ser o tempo todo super-estimulante ou apelativa. Por exemplo: é fácil fazer uma criança gostar um doce atrás do outro (overdose de açucar que não nutre). Mais dificil é fazer ela apreciar o sabor mais sutil de uma fruta, de uma verdura.. rsrsrs.. Na pista é o mesmo: Existem as transições, existe o esfriamento, a troca de feelings, o relaxamento pra depois o estimulo volte com mais força e mais prazeroso. Toda boa história tem altos e baixos, e um DJ, como o maestro dessa "historia", deve saber conta-la com continuidade e coerência. E deve sobretudo saber o perigo da "facilidade dos U-hus", que não devem ser gratuitos, fáceis, se não as coisas vão ficando genéricas e mundanas demais. . Afinal, quem se vicia em hiper-estímulos deixa de reagir aos estímulos sutis.
terça-feira, 22 de julho de 2008
milano
terça-feira, 15 de julho de 2008
venezia
Tirei segunda pra ir visitar Venezia, que fica a 180 km daqui. Acordei cedinho e, depois de um onibus e um trem, passei o dia inteiro andando na cidade das gondolas, das mascaras, das flores e da arte com vidro.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
cade a ideologia que estava aqui?
Pois eh, acreditem ou nao, parei num festival anti-racista na Italia, e agora sim, um sabado, tive a nocao maior de como funciona isso por aqui.
Dessa vez fui sozinho, tocar a segunda vez no festival. Cheguei umas 18h e ja estava cheio de gente, entao observei o dia inteiro as pessoas, tentando descobrir onde estava o lado mais ideologico e militante do festival. A camisa de um grupo de hip hop que tava passando o som tinha escrito "grupo tal odeia o racismo". Na minha frente, no refeitorio, um italiano sem camisa exibia uma tatuagem enorme no peito com a frase "life is pain" (sim, escrita assim, em ingles), e outro do meu lado com uma grande no antebraco, " love & hate". Outro grupo exibia uma camiseta com um logo com a frase "good night white pride", supostamente representando um racista sendo nocauteado. Sera que um pessoal que esta engajado dessa forma numa causa anti-racista ja nao deveria saber, a essa altura do campeonato, que odio contra odio so gera mais odio?
Mas no geral o clima era tranquilo, como o de comportadas ovelhas. Quase todo mundo com cerveja e cigarro na mao. Durante o dia o lugar parecia uma colonia de ferias sem muitas opcoes de entretenimento. Estranhamente o palco principal (e unico) ficou ate 21:30 (ainda dia) vazio. Depois, so duas bandas (ja que eles tem que parar 3h, pois mesmo sendo no meio do campo, leis sao leis..), a primeira foi de hip hop, daquele tipo tradicional de 20 anos atras, e logo depois uma banda de rock punk. Pra fechar a noite, um dj de drum'n'bass pesado.
Nas barracas, dezenas de imagens do Che Guevara, (sempre bom lembrar que foi um dos mais belicos assassinos do seculo XX, oportunamente transformado em martir do marketing do comunismo apos sua morte) vendendo adoidado em bones, camisetas e bandeiras. Eh evidente que idealismo de butique faz sucesso. Toda hora via camisas negras de bandas ancias: motorhead, iron maiden, sex pistols, metallica, a mais nova delas de 20 anos atras. Ja nao se fazem mais icones como antigamente? Frequentemente me vejo vivendo entre cliches datados ou distorcidos (como o caso do Che, por ex).
Acho que enfim comeco a entender porque ouco tanto a frase "nasci no tempo errado" entre a garotada. Quem tem 18 anos hoje em dia deve se sentir vivendo em cima de valores clonados, e eh compreensivel que exista o desejo de ter vivido os originais, entao eh criada toda essa nostalgia deslocada. E entao fica mais compreensivel analisar como eh difcil fazer coisas de vanguarda hoje em dia. A absorcao eh dificil , ja que o pessoal ta tao condicionado a consumir pastiche de pastiche.
Ai lembro de um dos meus filmes preferidos, o invasoes barbaras , que satiriza a decadencia das religioes e a carencia de novas ideologias. Entao vos pergunto, qual o caminho, qual a ideologia? Eh ser cetico? Niilista? Partir pra desconstruir tudo, com uma mentalidade terrorista ou partir pra odiar e matar quem nao pensa igual, como nosso comandande Che? O pensar ecologico nem eh mais uma opcao hoje em dia, eh um dever, e eh dificil quem realmente pensa verde de modo realista (A maioria se orgulha de nao usar sacola de plastico pra ir no supermercado mas deseja trocar de carro todo ano, por ex.).
Fico mais, em primeiro lugar, com o bom humor. Rir pra nao chorar. Por isso que meu artista preferido eh o Banksy, que esfrega na cara da sociedade as hipocrisias e as stronzatas, como se diz aqui na Italia. Fico mais com o trabalhar pras coisas andarem de uma forma um pouco melhor, mostrando arte e cultura pra pessoas que normalmente nao teriam oportunidade de descobrir por elas sos. Fico mais com trabalhar por novas ideias pra formar a cabeca das novas geracoes de forma diferente, mais realista e completa.
Outra coisa que tenho notado aqui na Italia eh o pessoal reclamando e dizendo que vai sair do pais. Estranhamente todo mundo fala, atualmente, da Espanha, como se fosse a terra da salvacao, o pais do futuro. E a Espanha tem crises equivalentes ou piores. O que passa eh que o pessoal nao entende que a crise eh geral, eh um comportamento escapista e bastante individualista querer sair do seu pais, ao inves de tentar melhora-lo, trabalhar por ele, assim que a gente pode criar novos padroes, novas oportunidades, ao inves de torcer pra isso cair do ceu ou idealizar uma "terra prometida" que nao existe.
festa brasileira!
Bastou uma boa festa pra juntar energias boas do festival numa pista de danca. Como eu ia tocar numa pista menor no sabado, nao fiz meu live, e sim uma "noite brasileira". E nem foi anunciado direito, tava so escrito num painel que teria seratta braziliana as 22:30 com DJ Lucio K do Brasil, e logo chegou um grupao e se jogou nas batidas brasileiras. Tocar pra gringos eh um pouco diferente, as vezes coisas com sonoridades bem percussivas e que soam originais pras referencias musicais deles funcionam mais do que classicos. Entao rolaram muitas producoes proprias, sambas novos, antigos, marcatu, maculele, sessao capoeira.. foi bem divertido. Era pra acabar 2 e acabei 3, sob protesto do publico presente. Senti que monopolizei todo mundo do festival com mais de 30, so ficou a garotada la na pista principal, de musica eletronica.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
the monkeys
quarta-feira, 9 de julho de 2008
alcohol
Ontem toquei num festival chamado Mondiali Antirazzisti, que tem a proposta de discutir e protestar contra racismo, xenofobia, sexismo e preconceitos afins. Muito legal, principalmente porque parece que nesses festivais todo mundo que eh militante, outsider ou simplesmente esquisito comparece, o que forma uma mistura interessante...
segunda-feira, 7 de julho de 2008
per la fidanzata
Nesse doce transe, paralelei sobre o equilibrio de opostos: assim como o segredo do chocolate eh o amargo do caroco torrado do cacau com o contraste do balsamo do acucar, a saudade eh fascinante porque eh a arida falta no mesmo lugar que a aconchegante lembranca. Romeu e julieta.
Entao mergulhei em aguas mais profundas e tudo ao redor parecia irreal e real (melhor dizendo, um novo mundo abstrato e nobre). Senti uma forca fluida que me envolvia totalmente e me deixava mais leve, percorrendo meu corpo como endorfina na corrente sanguinea e me causando uma sensacao assustadora: a de confrontar com um mundo ao mesmo tempo familiar e complexamente novo. Como o segredo do chocolate.
Enquanto flutuava, um calafrio desde o coccix ate a nuca me fez espirrar e uma pedrinha branca saiu da minha boca. Como uma semente flutuante, bem diante do meu rosto comecou a crescer rapidamente e se tornou uma especie de alga cheia de tentaculos, que se enrolaram rapidamente por todo meu corpo. Senti milhares de prazerosas espetadinhas que me fizeram sentir verde. Agora estou clorofilado, pensei, e sou parte da natureza enfim. O frio, calor , medo e conforto ao mesmo tempo me deixavam perplexo e anestesiado. Tudo que podia fazer era relaxar e finalmente me entregar a meus instintos, deixando que tudo aquilo penentrasse sem reservas nas minhas visceras. Fechando os olhos, uma luz laranja-quente quase me ofuscava e eu me lembro de ter pensado: como estou conseguindo respirar normalmente nessa profundidade?
Tudo isso sendo levado pela corrente, suave, constante e segura. De repente percebi que minhas maos estavam todo esse tempo fechadas, e os cristais continuavam crescendo nas minhas palmas.
sábado, 5 de julho de 2008
sexta-feira, 4 de julho de 2008
quinta-feira, 3 de julho de 2008
tecnologia - a grande esfinge
Sempre fui meio cismado com a tecnologia. Fiz de tudo pra nao aderir ao celular (achava um aparelho superestimado, me sentia perseguido, invadido e nao queria viver radiação eletromagnética na orelha, rs) e nao vejo televisao ha anos, simplesmente porque me recuso a dar muita importancia pro bizarro mundo da mídia e do entretenimento descartável/apelativo. Acho que o mundo seria bem melhor se esses dois aparelhos deixassem de ser o centro de tudo - e infelizmente sao.
Com computador tambem tinha essa resistencia a tecnologia, mas de uma forma diferente. Sempre adorei computador, so tive meu primeiro tardiamente - 1998* ,sempre usei intensivamente desde entao, mas me recusava a aderir a novos softwares, novas versoes.. meio que evitando ser dragado e manipulado pela "industria" que te empurra upgrades o tempo todo.
Mas te digo que comecei ha uns poucos anos a ver que essa postrura me prejudicava. Por exemplo, todo mundo sabia usar um celular "fluentemente", e pra mim tudo alem do basico ou os novos aparelhos eram um grande misterio. Eh como nao falar uma lingua essencial.
Internet: hoje geralmente eu deixo e ligada 24 horas, porque se nao estou baixando musica e filmes (nao adianta, a quantidade de musicas e filmes que eu gostaria de baixar eh INFINITA, ja me conscientizei), estou disponibilizando eles pro mundo. O orkut, por exemplo, voce escolha o quanto vai se expor (Por isso sempre vi com desconfianca quem tem "medo" de orkut). Alem do mais, todo meu trabalho eh centralizado no computador, principalmente as relacoes sociais feitas pela internet e a atualizacao de musicas e noticias relacionadas.
Um parenteses: Nesse momento, tou na Austria, na casa de um novo amigo, o Herbert, gente finissima. Onde nos conhecemos? Atraves do myspace. Meu amigo Ze', que arrumou hospedagem pra mim em barcelona tambem foi por myspace. Todo mundo sabe, ja casei com uma pessoa que conheci no Orkut!
Upgrades: faco sem questionar. As versoes novas sao sempre melhores, com menos bugs, assim como opto por computadores novos, sempre que posso.
Na real, o problema nao eh a tecnologia, e sim como a gente usa. Quanto mais tecnologia melhor, contanto que nao venha em forma de desperdicio. Mas quanto mais tecnologia, mais eh necessario saber usa-la. Ela sempre pode ser uma grande amiga, e evita-la eh o mesmo que temer administra-la. Eh fugir do pau. Administra-la eh essencial pra estarmos sempre em dia, compativeis com o mundo, afinal de contas quem nao se renova, envelhece; quem nao a decifra, eh devorado.
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* - Tardiamente se voce considerar que meu pai trabalhava com informatica desde 1974 e nos anos 80 foi dono de uma empresa de software, tinha dezenas de computadores. Em 87 eu ja sabia programar em basic, dava aulas de DOS, em 89 entrei pra faculdade de informatica, mas nem assim ganhei o meu. Pois bem, em 98 ele faleceu e so entao eu tive meu primeiro PC - o pessoal dele, que 'confisquei' pra mim.
terça-feira, 1 de julho de 2008
ibiza y formentera
Antes da Austria resolvi passar em formentera, afinal Valencia é do lado. Nesses 13 anos Ibiza mudou demais - o turismo ficou mais intenso, de gente com menor renda, guiada pela moda, faixa de idade menor e que vem pensando em se acabar nas drogas, e nao em curtir a ilha. Onde esta o pessoal que frequentava ibiza nos aureos tempos ate o comeco dos 90? Em Mikonos, pelo que me disseram. Se Ibiza ja nao me atraia tanto antes, agora entao.... Fui direto pra Formentera, que fica a 25 minutos de catamaran.
Formentera nao mudou quase nada. Continua um lugar rustico, tradicional, tranquilo, o mesmo cheiro e a mesma luz, ambos incomparaveis. Um pouco mais tomado por italianos e alemaes, mas so essa epoca do ano. A unica diferenca marcante (pra mim) eh que nao existem mais as tradicionais mobiletes pra alugar, so vespas pra cima. Aluguei uma bike (afinal, é uma ilha de 82 km quadrados) e fui me aventurar. Pra chegar em la mola levei mais de uma hora, e metade do percurso ladeira acima. Voltei ja de noite, pernas megadoloridas, me perdi um pouco (um brêeeu!), fui atacado por um sapo no queixo, mas foi muito divertido e um otimo programa introspectivo. Agora sao 23:30, vou sair daqui da lan house, tomar um banho e dormir um pouco antes da noitada, que comeca as 3.
Cheguei sem ter nada planejado e sem ter falado com ninguem (soy viajero freestyle..).Por sorte encontrei o dono de um bar onde toquei em 93/94, ele esta com um novo bar bem legal e bem sucedido(patchanka), adorou me ver, ja providenciou lugar pra eu ficar e hj de noite disse que ia chamar mais conhecidos para me ver.
tomates da andaluzia
Ontem mesmo em Valencia estava pensando o quanto os tomates sao gostosos, fora que voce pode encontrar varios tipos.. Ate o tomate cereja eh mais gostosinho. Pois hoje puxei papo com uma valenciana que veio a ibiza (uma das melhores coisas de viagens é isso, puxar papo com o povo o tempo todo!) e ela era de Andaluzia. Por coinscidencia ela comecou a falar da qualidade de vida de la, e da comida que era muito boa, e falou "os tomates de Valencia nao sabem a tomate, os de andaluzia que sao bons"... Taí, entrou pra minha wishlist.
(post escrito ontem)
sábado, 28 de junho de 2008
tocando em valencia
Noite gloriosa no Flow, um pub (quase club) em Valencia. Foi muito animador, as pessoas se amarraram no meu live, teve direito a aplauso "em cena aberta", o que e uma das coisas mais gratificantes em apresentacoes. 3:30 da manha, com a casa cheia, acabei a apresentacao e o povo ovacionava. Muita gente veio me parabenizar, e o Sais, meu anfitriao e dono do Flow, ficou de queixo caido, disse que queria ser meu empresario, meio de brincadeira, mas ele ficou realmente entusiasmado em me trazer de novo em breve. (Falou que meu estilo eh o maximal, que o maximal eh o oposto do minimal, eh a mistura, eh o futuro.. "maximal" seria mais ou menos um termo bonito pra "samba do crioulo doido"..rssss )
quarta-feira, 25 de junho de 2008
artistas sonham mais?
por que algumas mentes "perdem" a capacidade de aprender e mudar?
Em 1895, apos analisar detalhadamente e interpretar um sonho proprio, Freud descobria que a linguagem dos sonhos pode ser uma via de acesso direto ao nosso inconsciente. A partir dai, recorreu incessantemente ao estudo de expressoes artisticas durante toda sua carreira. Declarava que o artista tinha 'uma sensibilidade intuitiva, o que o fazia acessar mais diretamente o inconsciente do que pessoas nao-artistas, que necessitavam de muito mais tecnicas e metodos para acessa-lo'.
Ou seja: certamente nao existiria psicanalise sem Michelangelo, Da Vinci, Dostoievsky, Shakespeare.. As artes, como os sonhos, sendo expressoes intuitivas do inconsciente, foram e sao um material valioso para a psicanalise.
Como comentei aqui antes, passei por uma experiencia de busca interna, e nela tive uma companhia que, alem de ser mente artistica em potencial, tem um fascinio pela psicanalise (assim como eu), o que me fez refletir: A busca por sonhos lucidos e uma constante em mentes artisticas? Ate que ponto vale buscar caminhos quimicos para conhecer seu inconsciente?
Ai entramos em uma outra questao: Quanto a busca interna, a analise de si mesmo basta para trazer realmente aprendizados?
Tenho uma teoria sobre isso: No meu ver, nosso cerebro esta fortemente condicionado a seguir e repetir padroes, logicamente porque isso faz com que sejamos "estaveis" e ajude na nossa sobrevivencia. Para que haja um verdadeiro aprendizado e mudanca de uma rotina cerebral ou habito, o cerebro deve ser levado a sair de sua rotina. A abrir um espaco para "novas programacoes". Por isso aprendemos mais e temos mais poder de mudanca em estados nao-normais, onde o cerebro nao esta funcionando rotineiramente, como em paixoes, depressoes, estados de psicodelia o ate de choque (vide os traumas, sao "aprendizados" involuntarios, que mudam de forma marcante rotinas cerebrais).
Por isso a importância de manter a flexibilidade do cérebro. Na minha opinião, quem não faz esse exercício invariavelmente vai atrofiando esse "músculo" da mudança, da evolução cerebral, de sair dessa zona de conforto.
Claro que existem formas de auto-induzir nosso cerebro, nos abrindo a novos insights e mudancas de padroes, mas isso exige treinamento, um longo treinamento de auto-sugestao (o que nao deixa de ser uma mudança de rotina tambem).
Por isso acho essa busca paralela muito produtiva: ao mesmo tempo que tentamos conhecer mais de nosso inconsciente por analise de sonhos, de nossa propria arte, pela hipnose ou experiencias enteogenas, podemos tambem nos treinar para mudar nosso padrao cerebral para acostumar nosso cérebro a sempre absorver novos aprendizados e mudancas de rotina, e assim aumentarmos pouco a pouco nosso poder de mudanca. Como fazer isso? De tempos em tempos variando hábitos, reformulando conceitos, se lançando a novos desafios, se propondo a sair da zona de conforto.
tocando em barcelona
O dia de San Juan (24) eh um evento muy, muy tradicional, que marca o comeco de verao pelo menos aqui na catalunia. Eh tao forte a data que todo mundo se joga nas pantufas de jaca; tanto que eh a unica noite comparada com reveillon: se pode fazer festa e musica sem limite de horario. Mas eu ainda nao sabia disso. E como minha amiga e anfitria Mar ia fazer uma reuniao com amigos dia 23 (segunda) que comecaria as 21h e que teria uma roda de choro, me ofereci pra tocar antes e depois do chorinho. Por supuesto que uma reuniao light acabou virando uma festa e so consegui parar quase as 6 da manha! Na ultima hora foi so audicao, todo mundo deitado apreciando vinicius, tom, miucha, jao gilberto, sarah vaughan, ramsey lewis e miles davis, vendo o dia nascer.
sábado, 21 de junho de 2008
sonar 21 junio (continuacao)
Se os organizadores reclamaram que na sexta deu 60% da lotacao, no sabado deve ter dado 40%. Talvez pela pouca forca do line up, talvez pelo preco de 52 euros. Mas ainda sim era bastante gente.