quarta-feira, 25 de junho de 2008

artistas sonham mais?


    
                                                            "o grande masturbador" de Salvador Dali, 1929
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ser artista eh estar mais moldavel a mudancas?

por que algumas mentes "perdem" a capacidade de aprender e mudar?


Em 1895, apos analisar detalhadamente e interpretar um sonho proprio, Freud descobria que a linguagem dos sonhos pode ser uma via de acesso direto ao nosso inconsciente. A partir dai, recorreu incessantemente ao estudo de expressoes artisticas durante toda sua carreira. Declarava que o artista tinha 'uma sensibilidade intuitiva, o que o fazia acessar mais diretamente o inconsciente do que pessoas nao-artistas, que necessitavam de muito mais tecnicas e metodos para acessa-lo'.

Ou seja: certamente nao existiria psicanalise sem Michelangelo, Da Vinci, Dostoievsky, Shakespeare.. As artes, como os sonhos, sendo expressoes intuitivas do inconsciente, foram e sao um material valioso para a psicanalise.

Como comentei aqui antes, passei por uma experiencia de busca interna, e nela tive uma companhia que, alem de ser mente artistica em potencial, tem um fascinio pela psicanalise (assim como eu), o que me fez refletir: A busca por sonhos lucidos e uma constante em mentes artisticas? Ate que ponto vale buscar caminhos quimicos para conhecer seu inconsciente?

Ai entramos em uma outra questao: Quanto a busca interna, a analise de si mesmo basta para trazer realmente aprendizados?

Tenho uma teoria sobre isso: No meu ver, nosso cerebro esta fortemente condicionado a seguir e repetir padroes, logicamente porque isso faz com que sejamos "estaveis" e ajude na nossa sobrevivencia. Para que haja um verdadeiro aprendizado e mudanca de uma rotina cerebral ou habito, o cerebro deve ser levado a sair de sua rotina. A abrir um espaco para "novas programacoes". Por isso aprendemos mais e temos mais poder de mudanca em estados nao-normais, onde o cerebro nao esta funcionando rotineiramente, como em paixoes, depressoes, estados de psicodelia o ate de choque (vide os traumas, sao "aprendizados" involuntarios, que mudam de forma marcante rotinas cerebrais).

Por isso a importância de manter a flexibilidade do cérebro. Na minha opinião, quem não faz esse exercício invariavelmente vai atrofiando esse "músculo" da mudança, da evolução cerebral, de sair dessa zona de conforto.

Claro que existem formas de auto-induzir nosso cerebro, nos abrindo a novos insights e mudancas de padroes, mas isso exige treinamento, um longo treinamento de auto-sugestao (o que nao deixa de ser uma mudança de rotina tambem).
Por isso acho essa busca paralela muito produtiva: ao mesmo tempo que tentamos conhecer mais de nosso inconsciente por analise de sonhos, de nossa propria arte, pela hipnose ou experiencias enteogenas, podemos tambem nos treinar para mudar nosso padrao cerebral para acostumar nosso cérebro a sempre absorver novos aprendizados e mudancas de rotina, e assim aumentarmos pouco a pouco nosso poder de mudanca. Como fazer isso? De tempos em tempos variando hábitos, reformulando conceitos, se lançando a novos desafios, se propondo a sair da zona de conforto.


2 comentários:

Anônimo disse...

uau! bem, penso o seguinte:
- a mente em si não perde a capacidade de mudar. a psique das pessoas é que criam medos que, dependendo de suas personalidades, podem paralisá-las, torná-las conservadoras. conservadorismo é uma reação à mudanças.
- como disse picasso, acho que todo mundo nasce artista. as pessoas perdem a capacidade de acessarem seus lados artísticos com o verniz das convenções sociais etc. o artista adulto, no entanto, não conseguiu ou não quis domar o que possui de primitivo, intuitivo.
- acho que existiria psicanálise mesmo sem da vinci ou debussy. porque a arte não é a única forma de escape do inconsciente. há os sonhos, as histerias, os atos falhos, as doenças mentais, relacionamentos patológicos, etc.
- nenhum artista precisa necessariamente de indução química para criar. isso é negar o poder explosivo natural do inconsciente.
- de resto, fecho com você! ;)

Juliano disse...

Sim sim, acho que é por aí - tentar quebrar ou driblar os padrões pra deixar espaço pra novas dinâmicas. Seja mesmo via drogas, crises, paixões. Nisso acho que o artista é apenas um exemplo de caminhos. O monge é outro. O dançarino (bem, caímos na arte de novo) e por aí vai.
Como diz o monge zen da historinha, não dá pra encher um copo que já tá cheio. Então, temos que esvaziar - sair dos padrões, dos pré-conceitos, dos 'caminhos de pedra'. O tal 'silêncio interior' ;)