segunda-feira, 9 de junho de 2008

Imagem é tudo


A tecnologia tem dessas coisas engraçadas: chegam de repente, fazem uma revolução nos costumes, mas demora um tempo pra gente se adaptar totalmente, pra se definir uma etiqueta (ou seja, um bom senso) naquele novo contexto.

Há pouco mais de 6 anos comprei minha primeira digital: uma sony cybershot p-1, de 600 dólas. Calculei o custo X beneficio e vi que se eu tirasse 200 fotos por mês, em um ano a camera se pagava (levando em conta preço de filme, baterias, revelações, scannings que eu nao ia mais precisar fazer, etc). Lembro que a maquininha era a "atração" em todos os lugares em que eu ia, pois a camera digital era ainda desconhecida e estava fora de cogitação pras pessoas. Mas logo depois houve o boom das digitais e rapidamente a camera com filme se tornou item em extinção. Lembro que houve vários que profetizaram que a foto digital não ia pegar.. Mas uma coisa é certa: o erro nisso é a comparação das mídias. É melhor encarar que é um outro formato, uma outra concepção de fotografia. Porque é: demorou muito tempo pra eu me adaptar que podia tirar foto sem me preocupar com o fator custo ou desperdício, por exemplo.

Mas com o estouro das digitais vieram os problemas relacionados a isso: Imaginem, são petabytes e petabytes de imagens sendo criados a cada segundo no mundo inteiro. No plano pessoal, as pessoas de uma certa forma estao mais obcecadas por imagem, e as vezes a gente depara com a cena da pessoa estar vivendo uma situação única e, em vez de estar o aproveitando com seus olhos, está vendo tudo por trás de um visor, porque preferiu filmar do que viver o momento. Sem contar nas pessoas que esquecem que é fundamental fazer backup, pois as fotos tem um valor inestimável, e acabam perdendo centenas de fotos..

Já num plano coletivo, acho que vivemos a "geração sorriso congelado": Deslumbre da facilidade de tirar fotos + acesso a tecnologia e baixo custo + vida social poser + ditadura da felicidade = cenas um tanto... estranhas, pra ser delicado, como por ex: em uma festa, em plena pista de dança (lugar de movimento e descontação, por supuesto), de minuto em minuto um grupo congelar e ficar todo mundo com um armado e constrangedor sorriso "social". E as vezes por intermináveis dezenas de segundos..

Mexe tudo.. digo.. PARA tudo! Vamos pensar bem: qual o sentido de posar pra uma foto? A câmera deve registrar o espontâneo ou a imagem ensaiada que queremos passar pro mundo? As pessoas tão ficando muito apegadas em imagem, a ponto de desprezar o real, natural, espontâneo? As pessoas estão supervalorizando a imagem e nao consideram a relatividade dela? Não consideranto que uma mesma pessoa pode ficar "linda" ou "horrenda" (no sentido careta da palavra, ou seja, o purtamente visual) dependendo apenas de um angulo ou de uma iluminação?

Vejo de uma forma simples: Fotos não representam a realidade, elas sao apenas uma pobre referência dela. Já fui até acusado de ter obsessão por guardar imagens, mas apenas acho prático e divertido, pois não só tirar fotos com regularidade é uma forma nova e interessante de documentar minha vida como tambem me ajuda na cronologia das coisas, no futuro. Mas sempre ciente de que a foto nunca substitui ou representa a realidade.. Tanto que muitas coisas eu sei que nem vale a pena documentar com fotos ou videos, porque a emoção do momento é muito superior a qualquer captação "fria", ou que aquilo ali só é valido naquele contexto.

Outra etiqueta que deveria ser adotada nesse novo contexto é a concessão/propriedade das fotos. Por um lado, se ficamos na nóia de querer ter o controle sobre nossa imagem, vamos viver infernizados por esse batalhão de maquinas digitais que a todo momento pipocam flashes em nossas caras. Assim como devemos evitar ser o chato que fica exigindo as fotos de qualquer um que as tirou. Do outro lado, quem tira deve ter a cortesia de presentear ou mostrar as fotos pra quem foi clicado. E acho muito normal, educado e correto dar a opção da pessoa clicada aprovar ou não as fotos. Comigo é assim, se a pessoa diz "nao gostei, deleta", deleto sem nenhum problema, sem pedir nenhuma explicação. Afinal, as fotos servem pra isso, pra serem agradáveis de se ver no futuro (pra todos os envolvidos, claro). Combinado?



PS: para refletir: Se queixar de "nao ser fotogênico" é quase o mesmo que dizer "prefiro ser bonito em foto do que na vida real".. ;) Portanto, acho muito mais vantagem nao ser fotogenico!
Para refletir no.2: Se nos achamos feios em fotos que os outros nos acham bonitos, não é sinal de que temos que fazer as pazes com nossa imagem ou simplesmente nos acostumar com ela registrada? ;)

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