sábado, 11 de julho de 2009

Pobre Michael


A morte de Michael acabou que me trouxe reflexões importantes, porque trouxe peças do quebra-cabeças que faltavam pra entender seu drama. Ele estava mal, viciado em drogas há muitos anos. Foi confirmado, oficialmente, que ele estava dependente e consumia diariamente: Demerol, Vistaril, Dilaudid, xanax, Zoloft, Ritalina, prozac e Prilosec.

Quem tem problemas internos nunca conseguirá resolver eles com paliativos externos. Outro dia vi uma matéria sobre psicólogos estudando pessoas que teimam que querem fazer cirurgia plástica. E elas seguem sistematicamente o seguinte comportamento: dizem que só serao verdadeiramente confortaveis com sua aparência se mudarem o nariz.. mas dai depois que operam,continuam insatisfeitas, dessa vez querem mudar o queixo.. e depois a boca, e por aí vai, achando que será feliz se mudar tudo que "a incomoda". Da mesma forma buscamos sempre pretextos, to tipo "se eu ganhasse na Sena eu seria feliz".. Michael é a prova disso: um cara que tinha tudo na vida: boa fé, carisma, talento, muitissimo dinheiro e até muitas, muitas pessoas que fariam tudo por ele. Isso não o impediu de ter sérios problemas, e de desenvolver medo da vida. Tentou o dinheiro pra resolver "problemas" como a cor da sua pele e o tipo do seu cabelo, quando o problema tava lá dentro.. Michael era um menino medroso que nao queria encarar a vida, que se sentia, apesar de tudo, inapropriado a ela (como já vi ele confessar em entrevista).. e buscava fuga em quimicas, que obviamente o fizeram um viciado.

E por que ninguem o ajudou, se ele era tão amado? Simplesmente porque não adianta nem toda ajuda externa do mundo se a pessoa nao quer, verdadeiramente, mudar. Se a pessoa não consegue essa consciência por si própria, de dentro pra fora. E Michael não queria. Talvez tenha achado que quem tem tanto dinheiro nao precisa de psicólogo. Talvez ele tivesse medo até de perder o medo.. Ou de admitir pra si mesmo/pra alguem que precisava de ajuda psicológica.

Conversando com pessoas que já foram aos Narcóticos Anônimos (uma terapia "irmã"da dos Alcólicos Anônimos, de tratamento pra quem está viciado em qualquer droga) soube que realmente a fase mais dificil para tratar um vicio é a pessoa reconhecer que é um vicio, porque é normal que a pessoa só perceba/assuma quando já teve perdas consideráveis na sua vida. Como eles dizem, a maioria dos viciados nem "sabe" que é viciado.


O que é um vicio? Como saber se somos adictos?


A Organização Mundial da Saúde considera 7 critérios para definir um diagnóstico de dependência química. Se a pessoa se encaixa em pelo menos 3 desses itens que seguem abaixo, o diagnóstico é de dependência. Lembrando que em caso negativo, o uso abusivo pode ser desenvolvido e acarretar numa possível dependência. Lembrando, também, que dependência é uma doença incurável, deve ser tratada clinicamente. O primeiro passo do N.A. é reconhecer a impotência diante da droga e pedir ajuda.
Seguem os itens:

(1) tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos:

(a) uma necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para adquirir a intoxicação ou efeito desejado
(b) acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de substância

(2) abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos:
(a) síndrome de abstinência da substância (desconforto)
(b) a mesma substância (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência

(3) a substância é freqüentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido.

(4) existe um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância

(5) muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância (por ex., consultas a múltiplos médicos ou fazer longas viagens de automóvel), na utilização da substância (por ex., ficar horas preparando o ritual de fumar maconha) ou na recuperação de seus efeitos

(6) importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância

(7) o uso da substância continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância (por ex., uso atual de cocaína, embora o indivíduo reconheça que sua depressão é induzida por ela, ou consumo continuado de bebidas alcoólicas, embora o indivíduo reconheça que uma úlcera piorou pelo consumo do álcool).

Resumindo: sempre que a utilização contínua de uma substãncia comece a prejudicar outros setores da vida da pessoa.
O fato da pré-disposição ser uma "doença sem cura" quer dizer que nao importa quanto tempo a pessoa passe "limpa", a dependência pode voltar a qualquer momento e fazer o mesmo estrago.

e pra terminar esse assunto hardcore, um video perfeito pra se despedir do assunto "Michael". Uma pena que na vida ocorram tantos desperdícios por causa de medos e vicios..

(obs: pra quem tem fones vale a pena ver em High Quality: logo depois de apertar o play, clica lá embaixo HQ)

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